28 de novembro de 2013

Uma amiga me procurou. Queria o nome da pediatra do Bento para fazer uma consulta. Seu filho João era daquele tipo mignon e o seu pediatra insistia que precisava de complemento. Batia de frente com a intuição da minha amiga. Era notável. Olhávamos o João e víamos que tinha um bom aspecto. Não parecia desnutrido, não era um bebê irritadiço e degustava do seu seio, como ela bem dizia.

Indiquei a pediatra do Bento com o maior prazer. Pois foi ela que me segurou na época mais difícil do Bento. Uma vez, minha vizinha passou por mim e disse : “Nunca vi um bebê que chorasse tanto quanto o seu.” Bento me exigiu muito e, muitas vezes me questionei se ele tinha algo, se eu tinha algo, se a gente tinha algo, se o meu leite tinha algo. Lilia dizia que era normal e que Bento tinha personalidade forte. Bem sei! Eu não podia mudar sua roupa, sua fralda ou sua mão de lugar se estivesse numa má posição. Era escândalo certo e mais 45 minutos de peito para acalma-lo.

Eu me perguntava: O quê que eu fiz à Deus?! Ou afirmava: Deus virou as costas pra mim. Se Deus existe mesmo, ele ria de mim.

Seria refluxo? Seriam gases? Seriam cólicas? Sua adaptação nesse mundo como a Lilia dizia? Seria o meu leite? Opa.

“As elevadas intenções da criança leonina não devem ser ignoradas”

Eu queria que meu filho tivesse um ritmo, uma calma e uma personalidade que ele não tinha. Nem eu! Certa vez, combinei com um grupo de mães de levarmos os bebês ao Jardim Botânico. O combinado era irmos de Copacabana até lá andando com os santos bebês no carrinho. Eu queria andar, eu queria ir e, mais que isso, eu queria que ele aguentasse como os outros ficar no carrinho. Ele gritava. Eu o colocava no colo e empurrava o carrinho toda torta. Quando ele acalmava, o colocava no carrinho e choro de novo. Até que parei. Mandei todo mundo seguir. Resolvi seguir o tempo dele. Sentei-me numa sombra da lagoa e o deixei mamar o quanto quisesse. Entendi ali. Ele está se adaptando. Não posso forçar nada. Quem toca a banda é ele. Seria aquele choro fome?

Me sugeriram complemento por diversas vezes, mas se o meu leite era de fato fraco, se Bento mamava a cada 1h, 1h e meia, se meu peito jorrava quando ele espaçava um pouco mais, pra que complementar algo já abundante?

Lilia batia o pé firme e eu, no meu íntimo, achava ela doida, no entanto, seguia suas orientacões. Olhando de banda, mandando mensagens de que ia enlouquecer, mas seguia.

Mil sugestões de medicamentos alheios e a Lilia na homeopatia – o que gerava sempre um resultado positivo. Só que não dava fim àquela loucura e eu sofria. Bento sofria.

Lá pelo sétimo mês fui num gastropediatra que disse que Bento estava obeso e se encontrava acima da curva de peso. Em relação ao seu tamanho, disse que ele era maior que 97% dos bebês da sua idade, mas em relação ao peso estava acima de 100%. Nos encontrávamos na época de introdução dos alimentos, e embora Bento comesse timidamente, eu era a sobremesa. O pediatra disse para eu recusar peito (???). Ignorei. Porém justiça seja feita, ele concluiu: “Seu filho não tem nada, ele é apenas um glutão!” Me redimi à Lilia. “Viu? Não te falei? Precisou pagar 400 reais pra ouvir o que te falo? Rs.” Ela riu e seguiu sua consulta e sua homeopatia mágica. Discordou quanto à o obesidade e exclamou: “Fernanda, ele não está nada de gordo! Ele já viu o pai do Bento? Bento tem estrutura grande, só mama praticamente, tá nada de obeso! Quer encaixar ele no quadrinho? Tem que olhar pra criança, não adianta olhar só para gráficos.”

Pense fora do quadrado e que se dane “A vida do bebê” do De Lamare. Cada um com seu ritmo, seu corpo, sua personalidade, sua intuição.

E foi assim com o João. Lilia endossou. Minha amiga seguiu confiante com as degustações do João, um bebê lindo, inteligente e saudável.

Não duvidei mais. Meu filho é saudável. E sua maneira de mamar feito um desesperado foi o que fez meu leite vir em abundância para suprir sua necessidade nutricional e afetiva. A matemática é simples: quanto mais se mama, mais leite se produz. Portanto, impôr um ritmo de mamadas (de x em x horas) é furada para quem deseja uma boa amamentação. Livre demanda, bebês não têm relógio.

Nesse ponto, agradeço muito à Fátima que trabalha aqui em casa. Ela cuidou de mim e do Bento esse tempo todo e sua experiência enquanto mãe que amamentou seus filhos até 2-3 anos, me apoiou muito no processo. Quando Bento pedia mais peito, eu dizia:

– De novo?
– Fernanda, bebê é assim mesmo. Mamam toda hora. E ele é um bebê grandão, o leite materno é leve, ele vai precisar do seu peito com mais freqüência.

Fátima fez algo muito importante para nós e nem imagina. Na sua simplicidade nos apoiou. Nos deu o que há de mais carente na nossa sociedade tão comercial e tão antinatural. Ela não é a maioria.

Amamentar foi o maior presente que a vida me deu. Um processo que me trouxe para o meu lado mais natural, mais selvagem, mais amoroso. E eu, como muitas mulheres, precisei de apoio.

Eu e sei lá quantas mulheres! Que precisam só de um “vai que é tua!” Desejo mais Fátimas, mais Lilias. Menos revistinhas cafonas marketeiras, menos gente que encara isso tudo como competição e apóia o leite artificial só porque “precisou” – e nem sabemos se precisou realmente ou foi um daqueles conselhos magníficos para dormir melhor, menos gente falando em nome de mães e bebês (mais falando da sua própria experiência, pois ela não deve ser tratada como universal), menos quadradinhos para encaixarmos nossos bebês.

 

Mais Apoio. Mais Amor. Mais Amamentação.

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