10 de junho de 2013

Fila da gerência de novo. Avistei ao longe uma amiga e seu filho de 2 anos e meio. Ela estava na fila preferencial – preferencialmente lenta. A sua cara meio brava dava ordens, mas Samuel cagava pra todas. Eu ria. Não era comigo, neh? Deixa eu rir enquanto não chega a minha vez de se emputecer na fila. Eu estava de bom humor – não é sempre assim.
Samuel estava a patinar de barriga no chão do Banco. Mergulhava de peixinho estilo a seleção de vôlei. Clá não estava com a cara muito boa, em consequência da sua desgraça, a minha estava ótima.
Ninguém merece fila de banco com criança e nem adianta dizer que tem direito à preferencial. Velhinho espera, bebês não. Bebês rugem. Rugem alto. Velhinhos não. Velhinhos esperam na fila falando baixo e reclamando suas artroses. Velhinhos encaram a ida ao banco como passeio – segundo informações colhidas. Infelizmente, os idosos sofrem um isolamento social que só a ida rotineira ao banco e à fisioterapia salvam. Sei bem disso.

Velhinhos também quebram o pau na fila:
– Ei, eu estava na frente dela!
– Mas eu não vi!
– Estava!
– Não estava!

Quebram o pau como se tivessem uma urgência enorme. Antes que digam que estou sendo preconceituosa, primeiro, eu trabalho com idosos e, segundo, tenho um bebê.

– Dona Fulana, vamos marcar nossa seção amanhã às 15 horas?
– Ih… Não posso amanhã. Tenho que ir ao banco.
– Quer marcar de manhã, então? – parte-se do princípio que não seria necessário mais do que 2 horas para ir ao banco, somando com 1 hora de fisioterapia, ainda sobram pelo menos umas 12 horas no dia.
– Não dá. Vou ao banco.
Ok. Evento do dia: banco.

Bebês não tem nada pra fazer de urgente, mas parece que não sabem disso. Uma vez uma velhinha me deu a vez no banco, eu carregava Bento com seus 11kg e não pude subir ao caixa com o carrinho. Quase beijei a boca da velhinha por gratidão. Tem velhinho que vê o bebê dando xilique na fila, a mãe quase infartando, mas não dão lugar. Safados!

Não é um grande negócio, bebês e fila preferencial – preferencialmente lenta e com velhinhos com contas da família inteira. Mas pra que fila se temos a internet para pagar contas? Pois é, foi o que sempre fiz, porém meu aluguel extrapola o meu limite- quer dizer, extrapolava. Quando notei que eu mais Bento mais fila preferencial era igual a estresse – não são todas as velhinhas conscientes da loucura que é distrair um bebê numa fila imóvel – fui à minha agência aumentar meu limite. Feito. Mês seguinte pagaria todas as minhas contas de casa.

Tem dias que pago por uma confusão. A conta do aluguel venceu num desses dias. Alguma coisa me dizia que ia dar merda – e no fundo eu queria que desse. Parei na frente do computador para pagar. Estava quente, tudo estava quente. Bento de fralda novinho e meu cartucho de distrações esgotado. Muito cansaço. Um vazio ventou na minha cabeça e fez-se chama. “Esse valor extrapola o seu limite diário.” Sair naquele calor com um bebê e encarar uma fila era tipo pintar as listras do rambo na cara e ir pra guerra. Eu tentei me acalmar. Liguei pro banco e um cara me pedia para aguardar. Depois desligava. NA MINHA CARA. Comecei a bufar e ver uma bandeira vermelha de tourada na minha frente.

– Alô, boa tarde, tenho um bebê de 2 meses e mês passado fui aí para aumentar meu limite para poder pagar uma conta pela internet. Não estou conseguindo. É difícil ir com um bebê ao banco.

– Vou verificar. Aguarde, por favor… tu tu tu tu

Ahhhhhhhhhhhhhh, mas eu fiquei furiosa! Já estava descabelada, fiquei mais ainda. Eu estava louca, espumando de ódio e direcionei o mesmo inteiramente pro atendente que me deixava na linha. Não pensei. Agi. Coloquei um chinelo, peguei Bento só de fralda e fui ao Banco tirar satisfações. Lembro bem, estava com um vestido preto, repleto de golfadas brancas. Pensei: vou assim mesmo pra verem que o demônio também usa saia. Uma saia golfada! O que é muito pior! Meu coração batia forte, mas não era amor.

Cheguei lá com uma mão no bebê e outra nas cadeiras. Olhei pro mauricinho de plantão na mesa da gerência atendendo uma cliente calmamente. Voei pra perto e comecei o show:

– Olá, o senhor sabe quem atende os telefonemas da agência?

– Eu mesmo.

– Pois então, o senhor não tem respeito a uma mãe com um bebê pequeno não? Acha bonito me largar no telefone esperando até desligar?

– Ma…

– Eu quero que aumentem o meu limite a-go-ra! Não vou entrar nessa porcaria de fila preferencial mais lenta que qualquer coisa no mundo. E o senhor tem que aprender a respeitar os outros!!!

Pensa num show, com a plateia numa fila indiana segurando contas a pagar. A artista era eu.Uma moça veio me acalmar, me fez furar a fila e garantiu que aumentou meu limite. Mantive a cara de má, apesar de, depois de alguns minutos, ter me sentido ridícula- tive que pagar a porra da conta do mesmo jeito.

Mês seguinte, adivinha? Não funcionou de novo. Ignorei, estava de bem com a vida e minha baiana com preguiça de rodar.

Semana passada resolvi tentar aumentar meu limite de novo. Entrei na fila da gerência. Ria do Samuel limpando o chão do banco. Quando chegou minha vez sentei na cadeira e disse:

– Oi, gostaria de aumentar o meu limite. Já me estressei aqui uma vez e não funcionou. Gostaria que funcionasse.

– Eu lembro de você, senhora. Foi comigo.

Silêncio. Eu estava sendo simpática com o maluco  que, uns meses antes, estava a descascar em alto e bom som no Itaú de Ipanema. Se eu fosse ele, me odiaria, mas ele disfarçava bem. Sorria pra mim. Algo na minha cabeça reforçava que meu ataque de pelanca fora ridículo. Mas ok. Deu pra liberar minha fúria. Ela tinha que ir pra algum lugar, neh?

Conclusão da estória:

1- Rodar a baiana não altera o seu limite bancário.

2- Gerentes estão acostumados com esculachos e ataques de pelanca, por isso sorriem.

3 – Fila preferencial é rápida e você acredita em papai Noel.

4 – Bebês não esperam. Fato.

5 – Rir da desgraça alheia é sempre legal.

6- Os hormônios de uma lactante (uma mulher que amamenta) são imprevisíveis. Explodem de amor e ódio. Na segunda opção, fuja.

 

Aguardem as cenas do próximo capítulo. O moço simpático realmente aumentou o meu limite? É o que veremos no próximo dia 30/31.

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