23 de outubro de 2013

Esse é um post atrasado.
Mas pense que minha carteira de motorista estava vencida desde 30 de abril e eu nem me incomodei com isso, até outras pessoas ficarem incomodadas. Tipo o cara da seguradora. É porque bati de carro. Por quê? Porque minha cabeça vôa. Vôa e olha para o celular vibrando quando não deve. Vôa e olha para o bebê no banco de trás como se estivéssemos num dirigível no piloto automático. Vôa e, numa pequena corrida entre a esquina e minha casa, olho celular, olho bebê, ligo o pianinho musical, toco do-ré-mi-fá no pianinho, enfio pedaços de biscoito de polvilho na goela da criança, cago o carro inteiro de farelo, mudo a estação de rádio, olho que horas são, cato o controle da garagem e penso “cadê as chaves de casa?” Me diga, tem como dirigir decentemente assim? Não tem. E eu sabia que um dia ia bater.

Bati. Bati de leve, uma batida ridícula, completamente evitável. E inevitável ao mesmo tempo. Acho até que demorou pra acontecer.

Estava com Bento na rua desde cedo. Tenho um certo problema com os domingos, esqueço que tenho um bebê e que bebês não foram feitos para ficarem o dia todo na rua. Eles cansam e a gente cansa. Embora consciente, me arrasto. Bento é ainda um filho “siameso”. Vai onde vou. E domingo não gosto de ficar em casa.

O problema foi o seguinte: acabou a fralda. Nenhuma farmácia por perto. E eu protelando minha ida pra casa, esse problema com domingos caseiros, coloquei uma fralda de praia para continuar meus dribles.

Tinha mais uma problemática: voltar pra casa é… Limpar cocô de cachorro, trocar água, dar ração, dar voltinha, dar janta pro Bento, banho no Bento e em mim porque sou filha de Deus (ou pelo menos era até ter todas as 12 tarefas de Hércules e de toda a mitologia grega para cumprir todos os dias).

Sozinha.

Sair do banho pelada com frio e ter que pegar o Bento pelado e com frio para deixa-lo coberto, quentinho e sem frio. Enquanto isso, seco o que dá e tento bater recordes de menor tempo pelada. Pensa que é fácil? É fácil. A parte de pegá-lo com a toalha e coloca-lo na cama ok, mas e a fralda? O moleque não quer mais deitar para colocar fralda, quer sair correndo pelado no vento frio do final da tarde, pular na varanda pra pegar a ração das cachorras e colocar na água delas. Em suma, elas nem comem nem bebem água com o Bento por perto. Ele prepara um cimento e, depois, só me resta jogar fora. Corro atrás dele – pelada e arrepiada – o pego e levo pra cama de novo. Lutamos um jiujitsu aos berros e, enfim, coloco a fralda. Pomada só quando estou com paciência ou quando alguma assadura tenta se instalar. Ponho minha roupa, preparo a cama, grito pra cachorra não arrancar a bola da mão dele. Penso que vou respirar, mas quando pego o fôlego, Bento vem para cima de mim chorando, gritando e arrancando minha roupa. Hora de dormir. Dou de mamar para o esganado que apaga após meia hora de sucção e 3 trocadas de peito.

Protelei o máximo até que Bento fez um cocô dos mais fedorentos da sua história. Minha mãe havia dado peixe para ele pela manhã e seu cocô não me deixava mentir. Tinha cheiro de feira. Sem notar o estrago, o coloquei nos meus ombros e o que vazou penetrou na minha blusa, bem na altura no meu nariz.

Game over. Tive que voltar pra casa.

Não coloquei cinto nem em mim, nem no Bento. Ele estava toooodo cagado, vazado, desmilinguido. O que não justifica minha completa falta de responsabilidade.

Assumo. Assumo. Estava numa rua pequena quando fui responder meu facebook do celular e pof! Minha cabeça bateu no teto e Bento chorou de susto. Estávamos bem. O carro deve ter batido a uns 15, 20km/h. Errei. Errei.

Saí do carro fedendo a feira, peguei Bento chorando fedendo a peixe morto, cagado, chateado, e fui resolver as pendências. O homem deve ter notado, não se tratava de uma maluca qualquer, era uma mãe maluca que mesmo pobre ia pagar tudo que devia.

Dei telefone, placa, cpf e a certeza do meu caráter.

Liguei para o meu pai chorando feito criança que estragou o brinquedo. E sabe o que ele me disse? “O seguro cobre.” Naquele momento, todo céu cinza se abriu e fez um céu com sol lindo.

Percebem como vivo num mundo paralelo chamado Bentolândia? Paguei um seguro no início do ano e nem sabia o que isso me garantia. Respirei.

Até o dia em que a mulher da seguradora me disse que minha carteira vencida faria o céu ficar cinza de novo.

Fiz um esforço e resolvi a renovação da carteira em uma semana. Uminha. Tanta enrolação, tanto suor frio passando por policiais, pra resolver tudo numa semaninha só. E pasmem, nem doeu.

O que quero dizer com isso tudo é:

– A maternidade é um universo paralelo. O problema é que você não fica só nele, tem que resolver as burocracias do outro.

– Use o cinto de segurança em você e no bebê mesmo em distâncias curtas. O maior número de acidentes de carro acontecem perto de casa. Foi assim comigo, só não nos ferimos.

– Desculpem minha ausência nessas últimas semanas. Estou com vários posts no gatilho sem tempo para disparar. Mundos paralelos me sugando a todo vapor.

– Eu dirijo bem. Tão bem que ainda tô viva. Depois que virei mãe, sou o ser mais desatento do universo, portanto, ainda me considero no lucro com só uma batidinha dessas.

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