3 de novembro de 2015

-Manaweee!!! – gritava a mulher selvagem lá de dentro.

Um grito calado. Um grito abafado pelo paredão d’água daquele turbilhão.

Manawee? Não sei onde está Manawee… Mas onde estiver, me salve.

Coisa de filme da Disney. A fera adormecida no último quarto da mais alta torre do palacete do meu coração.

Quando? Quando Manawee chegaria com os meus nomes?

Virei músculos, virei colo, virei enxada, virei peito. Tive preguiça das roupas, descrença do tempo, simplificação da carne. Serve pra nada isso! Não tenho tempo. Não tenho saco. Não tenho desejo. Tenho uma mala de desculpas.

Desculpa para continuar surda.

O relógio, meu maior inimigo, correu por esses anos sem me deixar perceber. Algo tinha morrido e precisava nascer.

Ser mulher da boca pra fora. Ser dura quando se é doce. Ser fria quando se é quente. Travestida pela figura assexuada de amiga ou das mães mais tradicionais. Travestida por uma indumentária mal trapilha apenas pra se esconder.

Mães não fazem sexo, pô!

Ah esse calor… Que está dentro de mim, fora de mim, comigo. Esse fogo! Violento-Nervoso-Doido pra encarnar. Dominar. Esse fogo é dominante. Quem já viu, sabe. Não é de se brincar.

Fugir é tão mais fácil… Difícil foi encarar essa mulher que nasceu no espelho. E que sem ela não posso mais continuar.

Ouvi o uivo. Catei seus ossos. Deixei morrer o que estava “morrido”. Enfrentei seus medos. Rompi com suas algemas. Adentrei a floresta atrás de poções mágicas. Na casa da bruxa, compreendi seu poder. Incinerei.

E agora estou aqui. Com esse Deus nú no meu colo me chamando pra brincar. Diz que não se importa com os contratempos. Com minha falta de tempo. Com minha falta de jeito. Ele tem os nomes. Os dois!!! Porque sou duas, sempre fui. Ele chama por um nome sabendo que quer chegar no outro. Ele sabe. A divindade está no segundo nome. Ele chega lá.

-Manawee, é você?

Eu parecia ter saído de uma máquina do tempo, com uma roupa antiga de alguém que no mínimo passou uma década sem olhar à sua volta. Não reparou nas estações e nas mudanças de costumes. Esquecido numa ilha. Largado numa bolha.

– Manawee, depressa! Me diga meus nomes! Não posso esquecê-los. Nunca mais.

Satisfeita fico, pois Manawee não será surpreendido. Sabe minhas versões. Boas e más. Prazerosas ou não. Ele quer brincar e que se dane! E eu? Eu quero ouvir os meus nomes! Eu quero gritar e gemer os meus nomes. Os seus! Sussurrar e gritar e calar. Pra ele ter certeza que eu sei.

Meus nomes.

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