Cura

De galochas amarelas, passei o portão azul que me esperava na floresta.
O rio corria ao lado e eu via pessoas remando.
Um lobo cinza de olhos castanhos e azuis, me seguia – ou me guiava?


A cachoeira que víamos tinha uma queda d’água larga e suave.
Do ponto que estávamos, dava pra ver a caverna.
Entramos no escuro e meu lobo cintilava luz através de seus olhos que agora eram apenas azuis.

Não precisou de muitos passos para que essa luz estivesse dentro de mim – e meu lobo também.

No final daquela galeria, adentrei flutuando com trajes de fada, uma porta imperial.
Uma coroa de flores brancas adornava minha cabeça.
O chão de mármore refletia a realeza.
Na parede, um quadro.
No quadro, uma mulher.
Pomposa de cabelos castanhos avermelhados, pele alva, vestido vinho e brincos que caiam como gotas de rubi.
Com minha presença, ela saía do quadro, sentava-se em seu trono e estendia sua mão para que eu beijasse.
Sem muita paciência e sem muito rodeio me disse:
– Você já sabe a resposta, taí com você – ela me olhava por cima – É sua dúvida que te mata.
Em seguida, despediu-se sem afeto – o que de fato não me afetou.
Saí voando enquanto fada.
Cruzei a caverna enquanto mulher.
Recuperei minhas galochas, meu lobo.
E ao fechar aquele enorme portão azul, fui saltitando pegar meu barco.

 

Deixe um comentário