Aos meus bebês caninos, à morte e à vida

Essa semana vivi duas das experiências mais emocionantes da minha vida.
A primeira, certamente, foi assistir ao parto da minha cachorra, ou melhor, da minha filha canina Shell. Tenho certeza de que um dia serei selecionada a participar da série “Acumulador de Animais” da Animal Planet. Gorda, varizenta, fedendo a bicho, com suvaco cabeludo, chorando porque tenho 105 cachorros e quero mais um. Shell, minha sereia do mar que odeia água e curte comer um cocô esporadicamente, teve 4 filhotinhos lindos. Assisti os três primeiros partos e o quarto ela fez sozinha na calada da noite. Shell não chorou, não gritou “-Anestesia!!!”, comeu a placenta e limpou todos os seus filhotinhos com perfeição. Um amigo me sugeriu tentar comer a minha e perguntei se dava pra mandar um alho poró pra temperar, ele disse que sim e estou pensando seriamente no seu nível protéico e nutritivo. Em minutos, eles já se rastejavam em direção às suas tetas e mamavam. Eu me apresentava em estado ridiculamente derretido e apaixonado. O que continua. Dormi todas as noites com ela e meus netos.
Na madrugada do meu aniversário, estava dormindo quando acordei com a Shell na beira da minha cama carregando com a boca Mu, o único macho. Acendi a luz, ela subiu na minha cama, colocou o bebê no meu colo e debruçou sua cabeça na minha perna enquanto lambia Mu. Mu estava morto. Seu nariz roxinho e o corpinho que cabia na palma da minha mão gelado. Tentei aquecê-lo, fiz respiração boca-focinho, mas não adiantou. Em minutos, ele já não sustentava a cabeça. Caí em prantos. Por tudo! Pela morte, pelo gesto lindo da minha cachorra, pela confiança dela em mim, pela inteligência instintiva animal. Fiquei um tempo olhando Mu, Shell, minhas lágrimas caindo sobre eles, ela lambendo o bebê e mexendo as orelhas quando uma lágrima caía sobre ela. Peguei Mu e o enterrei sob flores rosas do meu jardim. Sabe como? Chorando pra caralho! Porque dizer chorando muito é muito pouco pro que eu estava. Shell só me acompanhou. Depois dormiu colada a mim e aos seus filhotes na minha cama. Eu fiquei pior que a Shell. Chorei por algumas horas e, até no dia seguinte, na aula de Ioga para gestantes, chorei de novo. Se eu não parar de escrever agora, vou chorar de novo.
O que tenho a dizer hoje é: Se você está em contato com a natureza, ela estará em contato com você. E mais, a morte faz a gente repensar muito a vida, nos faz dar valor e vontade de aproveitar aqueles que estão aqui e os que ainda estão por vir.

1 Comentário

Deixe um comentário