Fernanda, a rainha dos baixinhos

São 14h e me dirijo para casa de um paciente. Estou morrendddoooo de sono. Desejo mais que tudo minha cama. Sempre penso “Fernanda, vai chegar uma época que você vai poder tirar o cochilo que quiser após o almoço.” Em seguida, penso “Pqp! Ter que atender agora? Que merda!”.
Enfim, chego ao meu destino. Toco a campainha e abre a porta uma baixinha de pele enrugada, com seu andar, na maioria das vezes, lento e um sorriso maravilhoso no rosto. Toda aquela indisposição desaparece em segundos! Eu definitivamente amo os mais velhos. Aprendo tanto com eles que muitas vezes penso que eles deviam me cobrar para ouvir suas experiências. Lidar com idosos é uma forma de observar os padrões comportamentais mais brutos. Pois, sabe aquela mania que você tinha aos 13 anos? Ela agrava aos 30 e vira uma rocha aos 75. Muitas vezes, vejo rigidez. Sei que chego lá! Mas em geral é bem difícil promover mudanças nos idosos. Se ele está insatisfeito com algo e sabe que tem uma solução, se não tiver muita força interior, preferirá manter o problema. O que guardo pra mim é: procurar ser flexível e procurar tudo o que me faz feliz. Se tiver que cristalizar que eu cristalize a felicidade.
Os meus baixinhos e baixinhas são amorosos, carentes, sinceros, experientes, crianças, adultos, avós, transparentes, sem vergonha. Com eles eu aprendo a ser quem sou de verdade. Que eu seja a fisioterapeuta muleca, meio filha, meio neta. Meio mãe, meio pai. Pois sabem, em alguns casos tenho que ordenar para me obedecerem! rs Eles fofos obedecem, escutam, se aconselham.
Enfim, ontem faleceu um paciente querido meu. Com quem aprendi que mesmo que nossa cabeça insista em funcionar, uma hora nosso corpo falha. Mesmo que sejamos orgulhosos e guerreiros, uma hora nosso corpo se torna humilde e pedimos pinico. Mesmo que sejamos educados e limpos, uma hora nos cagamos nas calças e alguém meterá a mão na nossa bunda para lavar e não poderemos nos matar de vergonha.
Espero que esse meu amado esteja descansando em paz com uma nova e pomposa carcaça de qual ele possa se orgulhar.

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