Todos os dias. Umas três vezes ao dia ou mais, eu confiro. Dou aquela paradinha no espelho. Espremo a perna, espremo a bunda. Contraio a coxa. E falo comigo mesma:
– Puta merda! Elas ainda estão aqui!

Tento me consolar. Vejo outras na rua com as mesmas que tenho em casa. “Olha, Fernanda, elas são felizes assim. Têm namorado, usam short curto, comem batata frita… Arriscam saltitos de biquini. Não é o fim do mundo. Você é neurótica, assuma.” Essa psicologia da observação perversa reversa não me alenta. Volto pra casa, as encaro diante do espelho e digo:
– Eu não vou ficar com essa porra!

Praia? Só na farofa do Arpoador num domingo, bem camuflada. Rodeada que mulheres que já nem sabem mais do que se trata e, não satisfeitas de sofrerem do mesmo mal que eu, usam biquíni enfiado nos pulmões (já ultrapassou o útero, intestino grosso e delgado, baço, fígado) e, como um gran finale, lançam blondor para dourar os pelinhos da bunda, perna, virilha e bigode. Elas são felizes assim e no meio delas sou sereia! Agora, me meter numa praia do Leblon às 15 horas de um sábado seria o mesmo que dar um tiro no pé! Tô fora de combate, mas não tô morta! Ainda volto pro Leblon, onde há uma maior concentração de mulheres neuróticas como eu. Mas, antes disso, elas já terão ido embora, e eu passarei feliz no meu teste paranóico do espelho. Mal posso esperar!

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