Bolsa Amor

É sintomático. Vem aquela dor no estômago, minha irritação vai a mil, minha angústia se faz presente. Fim do mês e 300 contas pra pagar. 150 novas.

Além do aumento no orçamento, uma diminuição na renda. Uma suposta licença à maternidade não remunerada. Como diz uma amiga minha, o governo não sabe o que fazer com as mães (as mães solteiras então…). Eu não achava que a maternidade causasse esse impacto na vida profissional de uma mulher. Acreditava que com 1 mês eu seria uma Fernanda novinha em folha, pronta pra guerra capitalista. Com 1 mês de parida minha única sensação era de que precisava sobreviver àquilo: choro + privação de sono. Numa boa, só as mães, só elas me entendem. Não tem energia, pessoal, não tem! Nossa energia é pra cuidar do filho e deu. Eu preferi fazer 500 cortes orçamentários – até porque não dá tempo de gastar – do que trabalhar mais. E ninguém entende! “Fernanda, você não deveria procurar mais pacientes?” Como? Só penso em cuidar do Bento e depois disso, descansar e dormir! Chegou no nível de estar com as contas fervilhando, dor de estômago bombando, o paciente desmarcar e eu ficar feliz! “Dane-se! Não preciso de dinheiro!” Pobre, Fernanda… Precisa sim, nêga. Aí, fico pensando, o governo aprova que mães recebam pensões coerentes com o salário do pai (podendo ser menos que um salário mínimo), e, em contrapartida, a Câmara de Finanças aprova o “Bolsa Estupro”. O governo paga uma pensão de um salário mínimo para a mulher ter o filho decorrente de uma violência sexual. Para firmar mais ainda essa possibilidade, criminaliza o aborto nesses casos – e em muitos outros. Ser mãe é maravilhoso, mas é também muito difícil. Muita abnegação, muita entrega. Uma pergunta fica na minha cabeça: por que o bolsa estupro não vira um bolsa pensão complementar para essas mães que recebem pensões ridículas e ainda tentam não terceirizar sua maternagem? Outra, por que um bolsa estupro, não vira melhoria no nosso sistema público de saúde? Seria menos uma conta pra pagar. Por que o bolsa estupro não vira um sistema de educação sadio e viável? Vai aí uma creche por 2000 reais? Por que o bolsa estupro não vira campanha de conscientização e respeito à mulher? Por que o bolsa estupro não vira punição aos violentadores? Nessa hora, tudo se liga na minha cabeça. O governo reforça o machismo a todo instante. Não é de se assustar que aprovem uma lei que reforça a cultura do estupro, o estuprador reconhece filho, paga pensão. Visita também?

Numa dessas conversas com uma amiga que também não terceiriza a maternidade, eu disse a ela:

– A gente pode estar sem grana, sem descanso e sem muita expectativa do que será nossa vida no mundo. Talvez não juntemos muito dinheiro. Mas o legado que deixaremos para os nossos filhos, será a coisa mais rica que eles podem levar pra vida: o nosso amor.

 

Deixe um comentário