De peito à teta

 

Coisas estranhas acontecem quando se bota o peito pra fora pro seu filho mamar em público.

As reações das pessoas são diversas.

No início, a gente ainda tem muito marcado que o peito é um órgão sexual – usa sutiã de amamentação, paninho sobre o ombro para escondê-lo, retira-se a um lugar mais reservado. Tudo para disfarçar o seu sexo exposto. Depois, o peito vira mama, teta, seio. Você literalmente o arranca de qualquer blusa ou top pra dar de mamar. Você entra no estado vaca e começa a mascar capim com cara de paisagem se alguém fica te encarando enquanto amamenta.

Sim, as pessoas olham. Uns disfarçam, outros não. Tentam imaginar como é o seu peito sem aquela criança ali pendurada. Ou, talvez, se ele resistirá àquela sugação toda.

Depois? Depois, colocar o peito pra fora é instintivo. Bento dava gritos e eu atendia de forma reflexa-espinhal com o peito na boca dele.

Uma vez, sentei num canteiro fedendo a xixi de cachorro na Barão da Torre num domingo de manhã para amamentar. Tinha levado Bento para corrermos na Lagoa – eu empurrando o carrinho, claro. Ainda me encontrava em estado de obesidade pós parto e estava na intenção de mudar essa condição. Paguei peitinho umas 3 vezes na lagoa e ainda tive que fazer pit stop parecendo uma mendiga na sarjeta pra completar a quarta vez.

É reflexo, a gente não pensa.

E quem nunca terminou de amamentar e esqueceu o peito de fora?
Ah… Todo mundo! Peito de mãe é compartilhado, é público.

Uma vez um amigo estava aqui em casa e dei de mamar pro Bento. Bento dormiu e eu continuei a conversa – sem brincadeira – por mais 1 hora. Quando o cara foi embora e me deparei com o espelho do banheiro, tcharammmmmmm Meu bico do peito apontava para as 3 Marias no céu do lado de fora da blusa. “Fernanda de Deus… Que mico, hein, querida!” Senti vergonha e minhas bochechas ruborizaram. Por 2 segundos e passou. Vamos lá, sem exageros, trata-se de uma teta, uma mamadeira. Nada demais. Meu amigo ficou quieto.

Há quem se aproxime e, ao notar que o bebê está mamando, se afaste. Há quem dê um berro do seu lado e não só desperta o bebê, como todos os seus desejos mais malígnos de esganar tal pessoa. Tá vendo a mãe amamentando? Fica na sua, se não puder, no mínimo, não berre! Há quem ofereça cartão CeA. Oi?

Estava eu, numa manhã exaustiva com Bento e fui à CeA com minha mãe comprar presentes de Natal. Bento com 3 meses. Dias e noites se fundiam na minha vida sem rotina, padrão ou lógica. Mamadas num ritmo ameno de em torno de 1 hora e meia cada. EU ERA UMA ÍNDIA URBANA. Foi então que me sentei na sessão de sapatos da CeA com uma cara de cú e comecei a amamentar.

– Bom dia, a senhora já tem o cartão CeA?
– Não quero, obrigada. – cara de cú.
– Você sabe das vantagens de ter o cartão CeA? Parcela em 8 vezes… – bebê mamando.
– É sério isso?! Já falei que não! Tô amamentando, não tá vendo???

Coiceeeeeee!!!

Faltou o “Saaaaaiiiii daquiiiii!!!”

Ok. Voltando à elegância.

Há quem se importe com o peito. Há quem finja que nada está acontecendo ali – como o caso do moço da CeA. Tão compenetrado na sua função, talvez dever, de oferecer cartões a qualquer custo que ignorou completamente a linguagem corporal de uma jovem amamentando seu filho com a cara de que tinha deixado seu menor saco em casa – será que na maternidade? Enfim, tem de tudo, né?

Gente cega. Gente com visão. Gente amamentando. Gente oferecendo cartão CeA.

De peito a teta, reações diversas e adversas.

Coisas estranhas acontecem.

 

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