12 de outubro de 2015

Minha avó dizia que ser baixinha era uma vantagem porque dava pra se esconder em qualquer lugar. Como se aquela brincadeira de pique esconde, fosse durar uma eternidade.

Ah… Eu fui criança, fui criança pra caramba. Sou criança até hoje.

O espírito da molecagem vive e se expressa em espontaneidade. Se expressa em gargalhada alta e em certas dificuldades dessa lôca vida adulta.

O que minha criança queria?

Minha criança queria colo, jogar queimado, suco de laranja com beterraba, trocar papel de carta.

Detestava escola, adorava artes, amava educação física. Aguardava o creme preto do natal e rezava para as férias chegarem.

Tinha planos de fuga e adorava carrinhos de fricção – esse sexismo dos brinquedos que me matava!

Minha criança curtia brincar sozinha, curtia a bagunça da galera. Minha criança curtia.

Futebol, vôlei, basquete, alerta, pique-bandeira, stop, marco-polo, elástico, pula corda, gato mia, salada de frutas, bicicleta, patins, skate, adoleta, campeonato de arroto, fazer agenda, caderno de perguntas, caderno de poemas, attari, festa na Vogue, banco imobiliário, coreografia antes de Vamp.

Posso sentir o cheiro do almoço do sítio. Posso escutar Ace of Base. Posso ver todas aquelas crianças sentadas em cadeiras brancas já reservadas pela manhã para almoçar.

Sentada na mureta da piscina, enquanto meus primos brincavam, passei pela crise existencial da primeira menstruação. Que tragédia aquele treco! E eu que sonhava em ter peitos e pentelhos para parecer grande, estava completamente contrariada por aquela arbitrariedade da natureza.

Deixaria eu de ser criança? Nada! Nunca! The zoeira never ends!

Esse erê brincalhão que me ronda se manifesta quando escrevo, se manifesta no meu filho, se manifesta nos meus bichos.

Esse erê brincalhão quer a alegria viva de ser criança.

Quer que a infância seja respeitada, que a mente imaginativa das crianças batam asas, que o pequeno príncipe de todo mundo sobreviva às pressões do mundo adulto.

Desejo correr, desejo que corram com os lobos, do início ao fim. E o que significa correr com os lobos?

Significa correr para o que nutre a sua alma.

Desejo crianças e adultos selvagens. E o que significa ser selvagem?

Significa estar no seu natural.

As crianças expressam livremente esse natural! Que coisa maravilhosa! Nós adultos somos facilitadores dessas experiências. E quando falo em facilitação, incluo os momentos que damos aquele limite. Porque a vida é feita de frustrações e limites também!

Cuidar e deixar livre. Deixar livre e mostrar as limitações da vida. Brincar. Criar. Se mostrar pra vida como cada criança é. Perceber seus talentos. Ajudar a lidar com as suas dificuldades. Menos “o que você vai ser quando você crescer” e mais “quem você é agora”. Mais alma. Mais amor.

[Ó, não tô dizendo que é fácil e que nunca erramos a mão. Tanto com nosso filhos quanto com nós mesmos.]

Para o Dia das Crianças só consigo pensar em RESPEITO. Porque o respeito nos retrata quando vemos que estamos passando dos limites do outro. Quando para nós está ok, mas para o outro foi over. Crianças são o OUTRO. Não são apenas instrumentos de realização de pais e mães ou projetos pessoais para o futuro.

Crianças são projetos bem sucedidos para o presente expressos na felicidade espontânea de uma gargalhada.

Respeito aos nossos, aos dele, aos do mundo – criança não trabalha, criança dá trabalho.

Feliz Dia dos que podem ser Crianças!

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