23 de maio de 2014

Conheci a Fernanda numa tarde de segunda feira. O jeito dela falar e o tom de sua voz eram igualzinhos ao que eu imaginava ao lê-la. Eu levei o meu Vicente e lá estava o cremoso Bento. Os dois da mesma idade passavam por cima de nós, riam, choravam, brigavam e espalhavam tudo. Nós, que adquirimos um dos super poderes maternos – a imperturbabilidade, conversavamos sobre as possibilidades da nossa nova parceria.

Eu não sei falar sobre a maternidade sem pensar em tempo. Tempo, muito tempo, todo o tempo, tempo. Primeiro o parto em casa. 22 horas em que toda a dor do mundo partia ao meio as minhas costas. Tempo em que apesar de tudo não me fez temer nem por um segundo. Tempo em que fiquei calada, em que não pedi ajuda, nem pra desistir, em que só pensava nos segundos e na água… Depois as duas horas que tivemos antes de ser separados. Quando eu falo sobre o parto, falo para o Vicente. Não há como escrever sobre isso sem que eu me dirija diretamente a ele. Porque o tempo que tivemos juntos foi o suficiente para que eu aguentasse o que viria depois. Tempo em que o médico da UTI Neo Natal veio me dizer que eu não podia ir junto, pois meu prédio não tinha elevador – eu havia acabado de parir. Tempo em que esperei todos se voltarem para você e saí correndo 3 escadas, com 60 e poucos degraus. Tempo em que notaram a minha falta e vieram correndo atrás de mim, completamente ensanguentada. Fomos juntos, 3 da manhã para a Perinatal. Te entreguei, fui forte. Todos histéricos, teu pai, teus avós, a amiga parteira e eu calma, serena. Depois vieram 7 dias de luta. A dura cadeira de metal ao lado da sua incubadora. As longas noites de peitos febris longe de ti. Você veio para casa. 20 dias de vômitos e de médicos. Vi meu filho morto. O vi cinza, imóvel, com a moleira funda e os olhos esquecidos. Mais uma maratona de hospitais. Copa-dor. Cirurgia urgente de estenose pilórica. Vicente passou todos da fila e quase foi aberto sem anestesia. As agulhas não entravam nas suas veias secas. Depois, quase dois dias sem poder amamentar. Tempo. Mais tempo. Quando fomos pra casa, começamos a viver o tempo que era para ter chegado há 20 e muitos dias antes. Passamos meses sem dormir, meses de muito leite, muitos risos e choros, descobertas e longas caminhadas por Santa Teresa. Todo esforço é válido. Todo o tempo é válido.
Vicente sai pra a escola e lembra de voltar pra me dar um beijo. Meu coração dói de tanto amor.

A maternidade me fez raivosa com o sistema que nos cerca. A faculdade não entendia que, com um bebê de dois meses, eu não podia assistir um dia inteiro de aula. Nem que não podia fazer a prova no dia seguinte por que meu filho tinha passado a noite toda com febre. Fui me afastando, me enjoando com tudo que lembrasse o meio acadêmico e a intelectualidade e… me descobri. Descobri minhas mãos e em poucos meses junto à minha mãe criei um trabalho para mim. E o trabalho foi crescendo. Vi que podia trabalhar em casa, que podia ditar meu tempo e ter seu tempo, o nosso tempo.

A primeira vez que cheguei no Blog de uma Mulher que Corre (e rema) com os Lobos, li o post sobre o salão de beleza (aquele que a Fernanda vai sozinha com o Bento fazer tudo o que não fez durante um ano). Lembrei do Che Guevara – “Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás”. “Temos que maternar, mas sem nunca perder o cuidado.” Sério que pensei isso. Ela, guerreira, dura e terna lutando pelo filho e o seu próprio bem-estar.

Me tornei uma leitora.

A internet nos juntou. A minha página expondo os meus trabalhos- colares, trouxe a proposta do blog dela de unir Mães Empreendedoras. E aqui estou, me apresentando e começando uma parceria entre nós quatro – eu, Fernanda, Vicente e Bento.

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Rosa Terra é artesã, estudante de psicologia, virginiana, viciada em gatos e mãe do Vicente.

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