Há muito que eu não os via.

Os camarões do meu jardim.

Atualmente, estão crescendo meio envergonhados como broto de folhas verdes que aos poucos vão colocando suas pétalas vermelhas pra fora.

Eu olho pra eles e sinto felicidade.
Lembro do primeiro dia que dormi aqui com minhas cachorras, ainda com os cabelos empoeirados da mudança, as mãos escalavradas de carregar e limpar coisas, o corpo dolorido.
Minhas cachorras dormiam no sofá na sala.

Perto de mim.
A casa enorme impunha respeito, pra não dizer medo.

O dia começava a clarear e o canto dos pássaros era muito próximo.
Eu tinha dormido mal, passara a noite inteira pensando que te encontraria e te daria aquele beijo que não te dei no dia anterior.

Aquele dia, lembra? Fui vigiar sua bicicleta de longe, já estava de baby doll.

Quando cheguei escondida na porta, estava lá você com a sua bicicleta olhando pra dentro da minha casa a me procurar.
Corri pra dentro

Trocar de roupa

Voltar correndo para te encontrar.

Você ficou lá em casa de papo e se foi.

Nenhum bejinho.

Dormi inconformada.

Só esperava o dia raiar pra te intimar.

Olhei pela fresta da janela.

Que pássaros eram aqueles a gritar bem no meu ouvido naquela manhã levemente ensolarada de setembro?

Quando vi, eram beija-flores a beijar os camarões, inúmeros camarões, lindos (!), do meu quintal.

Eu não conhecia o som dos beija-flores, só a beleza.

Acordei, coloquei minha cadeira de praia na cozinha e fiquei a espiar.

Mais tarde te vi, te beijei, te abracei.

Fui dormir um pouco mais conformada.

Coração inflado!

E é disso que os camarões do meu jardim ao despontarem nesse mês de julho me fazem lembrar:

Coração inflado!

Felicidade boba!

Descoberta do amor!

Vida nova!

Você.

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