Lembro bem da minha infância em São Cristóvão cercada por animais. Incluo minha avó neste grupo. Era pra casa dela que eu ia todo final de semana. Era onde eu me dividia entre neta, muleca de rua e cuidadora de animais. Minha avó na época tinha algo em torno de 16 gatos, 2 cachorros, inúmeros galos e galinhas e um papagaio. Agora, você deve estar imaginando uma casa enorme de 10 quartos com um quintal imenso. Errado! Um casebre de 2 mínimos quartos com uma cozinha que só cabe uma pessoa e um quintal nas mesmas proporções. Conclusão, as galinhas chocavam em cima dos armários, as cachorras cuidavam de seus rebentos num cercado dentro do quarto, os gatos ficavam espalhados pelo quintal despretenciosamente e nós, eu e minha avó, dormíamos na sala. Lembro de uma galinha preta que acariciávamos enquanto assistíamos TV como se fosse um gato. Ela, provavelmente, se considerava um mamífero. Havia um galo, foi o último a morrer, que seguia a minha avó pela casa e, inclusive a esperava no portão, como se fosse um cachorro. Seu nome era Galo. Vi cachorro dormindo enroscado com gatos, amamentando gatos, brincando com filhotes de gatos como se fossem seus. Vi o que é a proteção maternal. Havia uma cadela em especial, a Miuxa. Uma doberman-lata gordinha e muito da braba que me viu nascer. De repente, ela se considerava humana e minha mãe. Ou sabia que era cachorra e me considerava seu filhote canino. Miuxa ficava deitada na beira da escada enquanto eu engatinhava para que eu não caísse. Deitava-se embaixo do meu berço enquanto eu dormia e minha avó lavava roupa no quintal. Quando eu acordava ela se dirijia à minha avó para avisar. Eu e a Miuxa junto com Willian, o outro vira-lata, fazíamos uma cantoria pelas manhãs, eu uivava e eles repetiam. Achava que isso era normal entre cachorros, hoje tenho cachorros que não uivam. Miuxa foi quem mais me ensinou o que é o instinto materno. Espero que minha mãe e avós não fiquem ofendidas. Mas a expressão dela enquanto cachorro era muito mais pura. Haviam apenas duas pessoas que podiam tocar nos seus filhotes: eu e minha avó. Ponto final. Ela amamentava aqueles bebês com afinco, praticamente não saía do quarto. Eu via nela uma mãe 100% perfeita e dedicada, disposta a te atacar caso ameaçasse a integridade da sua cria. A Miuxa era brava, muito brava, mas comigo e com seus filhotes caninos era puramente amorosa e maternal. Eu fazia parte da sua matilha. Cachorros não matam filhos. Gatos não matam filhos. Galinhas não matam filhos. Galinhas ficam lá dia e noite aquecendo seus ovinhos. Podiam considerá-los apenas líquido e não se empenhar nesta função, mas não. Ficam lá os nutrindo com amor e o calor do seu corpo. Depois, eles racham a casca e nascem pra vida. São ainda ligados à sua mãe, a seguem o dia todo.
O que entendi de toda aquela manifestação da natureza é que existe algo chamado instinto animal. Nós humanos também o temos, viemos com mais inteligência, mas não por isso com menos instinto. Nisso tudo incluo o instinto materno de proteção, de amor e preservação.
Posso dizer que tive os ensinamentos das “mestras”! Agora só preciso seguir.

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