Aniversário do Padrinho mais ativo do mundo!

Muito se fala da atuação – ou a falta dela – na maternidade. Os homens deslocados da figura de provedor, ficam sem saber o que fazer como pais.

É um caminho de descoberta do próprio feminino. O feminino que cuida, acarinha, toca e verbaliza seu amor. Posso dizer que dá gosto ver um pai segurando seu bebê no sling, dando uma comida, trocando uma fralda ou simplesmente contando as pequenas mazelas do seu filhote. Aquelas pequenas idiossincrasias que só quem convive de fato sabe. Bento gosta de coisas que giram, ama cachorros e rosna. Quando amassa a orelha direita, é sono. Quando começa a se pendurar em você e gritar, é fome. Quando as duas opções anteriores estão supridas, é tédio, mude de ambiente. Essas coisas.

Uma vez um leitor comentou num post que as mulheres têm que delegar seus poderes também, não basta o homem querer. Elas têm que confiar na capacidade deles de cuidar, mesmo que não seja como a delas, mesmo que na primeira vez de trocar uma fralda, se embanane todo.

A vida é inteligente nas suas linhas tortas. Bento, desde os 3 meses de gravidez, tinha 2 padrinhos. Um deles já era meu amigo e o outro era apenas um conhecido distante dentro daquela situação inusitada. Quero falar exatamente do segundo. Talvez, pelo fato de no passado ter sido apenas um conhecido com histórias da lagoa, é que, no presente, se tornou uma grande surpresa.

Sua relação com Bento começou, ainda tímida, quando Bento estava na barriga. Ajudou em pequenas coisas da casa. Mas, peraí, estamos falando de um padrinho! Sim, ele poderia ser um padrinho de fazer um frufru e só. Só que não.

Bento nasceu e ele foi na maternidade conhece-lo. Esteve presente quase em todos os messários. Além disso, sempre se colocou disponível para ajudar. No início, ajudava mais no entorno e a primeira vez que estendi Bento para que ele o pegasse no colo, ele me olho e disse: “Será que consigo?” Por que não conseguiria? Bento tinha 3 meses.

Em seguida, me disse que queria ficar com o Bento para que eu pudesse trabalhar. Chegava o momento de delegar poder a ele. Ao padrinho do Bento. Será que ia dar certo? É claro que essa dúvida rondava minha cabeça, mas eu tinha que tentar. Por carinho e por necessidade. Fernanda e sua dificuldade em receber ajuda estava disposta a mudar.

Ele foi comigo atender uma paciente em casa e, enquanto eu trabalhava, ficou com Bento na praça. Levou até um celular – coisa que ele não usa – para se comunicar comigo. Olha o cuidado! Deu tudo certo. Nas primeiras passadas com Bento no colo, ele dormiu ( o Bento tá? Não o dindo).

E Bento foi crescendo. E nós nos arriscando. Quem sabe arriscar não seja a palavra certa, mas acho que tiveram duas coisas importantes nessa estória de amor do Bento com seu dindo. A primeira delas, é que confiei nele e abri as portas para que participasse. Não confiei só por intuição, mas pela sua maneira de lidar com meu filho. E é aí que entra a segunda coisa. O dindo buscou muito essa proximidade. Ele quis conhecer e fazer parte da vida do Bento. Isso não é maravilhoso? Um padrinho, homem, fazendo uma padrinhagem ativa! Permiti e encorajei com alegria.

Uma vez, tive uma paciente às 18:30 da tarde. Como dizia uma amiga, a hora das bruxas! Bento ficava louco e esquizofrênico nesse horário e só eu conseguia lidar com aquela loucura. Quer dizer, até então achava que só eu. Combinei com o dindo e ele veio. Fiz o atendimento com minha atenção no Bento. Totalmente estressada com a possibilidade de ouvi-lo chorar. Um silêncio na casa. “Ou ele deu um boa noite cinderela pro Bento ou não sei o que está havendo!” Quando subi, a cena era a seguinte: o dindo com Bento no colo escovando sua barriga com aquela escovinha de recém nascido na frente da parede com pássaros pintados. Bento com cara de “mãe, que cara é essa de pânico?” Eu ri.

O passo seguinte foi ficar com Bento para eu treinar, algo em torno de 3 horas. Dindo chegou aqui em casa e perguntou: “O que eu faço?” Ri de novo e deixei tudo pronto pra ele. Quando cheguei de volta, Bento estava dormindo na maior paz.

Depois desse, Dindo me deu vários vale-treinos! Ah! E aprendeu a trocar fralda, mesmo que a primeira tenha sido colocada de trás pra frente rs. Mesmo que a primeira minha orientação tivesse sido “se fizer cocô e estiver na dúvida do que fazer, dê banho.”

Aprendeu a reclamação de fome.

A reclamação de sono.

– Ele não para de chorar
– Fome?
– Não. Calma aí, se eu tirar da música pra responder ele chora mais.
– É sono. Dê uma volta de carrinho na vila, tô chegando.

Bingo. Chegando em casa, Bento dormia no carrinho passeando com o dindo.

– Como se usa esse canguru?
– Assim ó.

Dindo saiu com Bento no canguru e foi passear.

– Você é o pai do Bento?
– Não, sou o padrinho.

Claro, quem não desconfiaria? Quem não acharia aquela ternura incomum pra um padrinho?

Bento tirou sorte grande – eu de tabela também. Um dindo que me dá um vale treino às 5:30 da manhã só pode ter sido enviado dos céus! Ok que ele coloque Bento para fazer barras ou treinos de propriocepção na areia fofa. Tudo com boa intenção rsrsrsrsrsrs.

Ah! Não vamos esquecer, o primeiro tchau foi com o dindo.

Assim como não esquecerei o vale night que você prometeu para eu desencalhar. Tá guardado na manga! Deixa cê aparecer aqui no Rio pra ver se não uso.

Dindog, hoje, no seu aniversário, desejamos tudo de mais lindo e maravilhoso nesse mundão de meu Deus pra você. Tudo bem que você nos abandonou e foi pra São Paulo. Só te perdoaremos se voltar rico e feliz. Principalmente, se voltar rico. Pode ser que, no futuro, Bento não lembre conscientemente do teu carinho nesse início de vida – se lembrará do resto fatalmente – mas em alguma parte do caráter e da personalidade dele, você deixou a marca. Obrigada por tudo!

Beijos

Fernanda e Bento (Dego)

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