27 de outubro de 2014

Muitas coisas me tocaram com a minha mudança de casa que ocorreu início de setembro. Essa vontade/necessidade de me mudar já vinha latejando na minha cabeça desde o início do ano. Ou melhor, desde que Bento nasceu.

Minha vida virou um grande mar imprevisível e ainda estou montando minhas velas para aprender a velejar.

Minha jangada não é das maiores e aprendi que o mais importante nesse processo é o foco no que quero e desapego no que não me serve mais.

Me serve o meu filho, meus bichos, minhas amizades sinceras e duradouras e a minha profissão. O resto? Pode levar.

É doído. Foi doído. Limpar aquela casa gigante. Desfazer-me de coisas que acumulei, temendo que levassem minha memória junto.

Mudança de planos, Fernanda. Mudança de planos.

Me lembro quando comprei minha primeira moto. Varri minha poupança e passei uma semana comendo pastel para economizar. Eu sabia que, ali na frente, eu ia ganhar mais, bem mais.

Dá cagaço, mas não vou olhar pra trás. O momento é de perder para ganhar (disse a moça do tarô).

Algumas cenas me tocaram nesse processo de mudança – leva tralha, some com tralha, arruma tralha.

Cena 1:

Eu tinha pra mim que o mais impactado com a minha mudança seria o meu gato. Acostumado a borboletear pela vila e por uma casa de 5 quartos, no mínimo, acharia que um quarto e sala era uma jaula. Daquelas sem graça que não têm um passarinho ou um camundongo para caçar. Planejava levá-lo só no último dia de mudança para que aproveitasse seus últimos dias de liberdade. Uma semana antes dessa data, eu já estava dormindo no novo endereço. Quando fui buscar umas coisas para levar, notei de longe o olhar desolado do meu gato na porta de casa me esperando. Era tipo “onde você estava?” E você aí achando que gatos são independentes e só querem saber de comida e cama quentinha. Meu gato me recebe na porta, me espera levantar às 5 da manhã para comer e se aboletar no meu edredom, me presenteia com os animais mais variados e nojentos, não recusa um colo ou um carinho. Olhei firme aquela imagem. Não titubeei. Peguei a caixa de transporte e o levei naquele dia mesmo.

Cena 2:

As minhas buldogas ainda estavam na casa, foram as últimas a sair. Por uma questão de logística. Por uma questão de negação minha. Era impossível levá-las para casa nova. Sempre que estava carregando o carro com coisas para levar para a casa nova, as soltava pela vila para que corressem um pouco. Numa das últimas vezes, entrei na casa para buscar algo e quando voltei, Shell estava dentro da mala do carro – onde normalmente as transporto. Entendi o seu movimento como um pedido: “Me leva?” Cortou o meu coração e a retirei com os olhos cheios d’água.
No momento, elas estão na casa da minha mãe e, apesar de vê-las diariamente, sinto muito por isso. Não será pra sempre.

Cena 3:

Falei para minha psicóloga durante o processo de mudança que eu tinha alma de pedreira. Ela me corrigiu e disse que sou uma diva e até faço trabalho braçal, mas sou uma diva. Ok. Estou me convencendo disso. No entanto, fiz minha mudança praticamente sozinha. Praticamente, não completamente. Enquanto me convencia, carregava uma caixa pesada descendo as escadas da casa antiga. Bento vinha logo atrás e disse “Espera, mamãe” – no seu linguajar fofolês. Desceu rápido e desajeitado ao meu encontro e com as suas mãos segurou a caixa junto comigo. Fazia força e atrapalhava-se para encontrar com o pé o próximo degrau. Se fosse um filme, tocaria uma daquelas músicas comoventes. Senti, mais uma vez – é eu choro com freqüência – vontade de chorar. Olhei bem nos olhos dele e naquele momento não me senti mais sozinha. Ele ainda repetiu o seu gesto de companheirismo e amizade carregando bravamente o nosso ventilador de teto enquanto a mãe estabanada tentava tirar um mundo de coisas de dentro do elevador.

Meus filhos (Bento e bicharada do meu coração) obrigada por me mostrar o que importa nessa vida!

Para o alto e avante!

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