17 de fevereiro de 2019

Eu tinha 26 anos quando engravidei. Passei 9 meses solitários por um lado, mas por outro, cercada de amigos. Jamais poderia imaginar a mudança que viria a acontecer – entre várias outras.

Como boa aquariana, minha casa vivia cheia e eu amava, principalmente, unir tribos diferentes. Turma da astrologia, do remo, da escola, da escola mais nova, da faculdade, da vida.

Quando Bento nasceu, amigos e amigas passaram por uma prova de resistência pela madrugada esperando ele dar o ar da sua graça. O quarto ficou cheio de gente pelos dois dias inteiros.

Em casa, minhas amigas ainda sem filhos, mostraram sua solidariedade ficando comigo, até durante algumas noites. Muitas me deram vale-treinos mesmo tendo tanta experiência quanto eu com bebês: nenhuma.

Eu não tinha a mínima ideia do tamanho da mudança, do trabalho e da transformação que eu sofria.

Sempre tendo que pedir ajuda.

Minha vida se tornou um eterno precisar dos outros e, talvez, isso tenha recaído sobre minhas amizades.

Tomei uma surra de humildade para me debater naquela piscina de ondas com pelo menos uma bóia de braço.

Eu bebia água, mas não morria – fisicamente.

Ainda me lembro do meu aniversário de 27 anos, sentada sozinha no meu quarto, enquanto Bento dormia, em frente ao bolo com recheio de doce de leite que a Fátima fez. Ninguém apareceu. Não marquei festa nem nada, mas chamei pessoas aleatoriamente. Ninguém apareceu.

O que se seguiu foi um processo de invisibilidade. Mãe solo, e ainda por cima, atleta. Fui sendo esquecida e me esquecendo. Tendo energia para o básico: a luta diária de ser mãe e profissional.

Certa vez, reclamei com uma amiga e recebi de volta uma bela patada, pois eu estava “cobrando”, mas eu não a procurava também.

Eu não conseguia.

Num outro momento, uma outra amiga, disse quando foi à minha casa “você é bem bagunceira, hein?”

Eu tinha uma criança de 5 anos, dois cachorros, dois gatos e não tinha faxineira ou alguém que me ajudasse.

Aquilo doeu na minha alma. Tive que refletir e perdoar a amiga em silêncio. Ela não fazia ideia.

Quantos programas não fui convidada, porque afinal, não é sempre que consigo ir.

Minha maternidade é solo.

Solo.

Me ferro solo. Me delicio solo. Me canso solo.

O social foi se perdendo e eu me perguntando o que fiz pra isso acontecer. Será que perdi a graça?

Me esqueci ou me esqueceram?

Mudei quanto? Foi tanto?

Nesse momento, só olho pra trás e enxergo o portal.

Aquele que fez de mim mortal, gigante e invisível.

0 Postado por: Categorias: Coisas de mãe Tags: ,

Deixe um comentário