21 de maio de 2013

O post de ontem me fez lembrar de um fato da minha adolescência, ou pré-adolescência. Não sei bem em que altura eu me encontrava nessas classificações. Posso dizer que não era tão rebelde ainda, mas também não brincava de boneca há tempos. Pensava em meninos, mas o primeiro beijo foi custoso. O fato é que eu ainda não tinha peitos. O que dificultava o lance com os meninos. As meninas que já os tinham eram a sensação. Eu nem me importava muito com isso.

Um belo dia fui ao banheiro e tinha um troço marrom na calcinha – não, não era um freadão. Eu tinha ficado “mocinha”. Escrevendo aqui posso ver a cara de empolgada da minha avó quando soube da notícia. Eu tinha 11 anos e não estava pronta para me considerar “mocinha”.  Eu queria andar sem modos, fazer salto bomba na piscina, plantar bananeira. Eu era uma moleca. Molecas não deviam menstruar antes dos 15, pelo menos!

Aquela notícia me incomodava, a euforia da minha avó mais ainda. A cagada é que eu morava com ela e pessoas menstruadas usam aquela porcaria de algodão fofo na calcinha: o modse. Ô coisinha insuportável! Tive que pedir a ela um modse, daí veio a cara de euforia. Juro que não compreendo a alegria. O dia que minha neta, quiçá minha filha, me disser que está menstruada pela primeira vez, primeiro me sentirei velha.  Segundo direi “seja-bem vinda”. Terceiro, lamentarei em silêncio, acabou sua infância. E quarto, serei discreta.

Ao invés dela ligar para farmácia e pedir um modse teen discreto, ligou pelo interfone pra minha tia avó que morava dois andares acima e tinha incontinência urinária.

– Maisa, Nanda acaba de ficar mocinha, tem um modex para emprestar pra ela? – isso mesmo, ela falava “modex”, puxando o “x” no final – Nanda, ela disse que tem, vai lá buscar.

Só faltava um locutor narrando aquela tragédia “A seguir, Fernanda sofrerá mais constrangimentos, aguardem!” Não bastou a cara da minha avó, tive que encarar minha tia avó, meu tio avô (óbvio que ele ficou sabendo), minha prima e as três empregadas da casa. Aquela cara de “Hummm, ficou mocinha…”

Não acabou aí. Eu precisava ser mais traumatizada, estava leve. O modse que a minha tia me emprestou (me deu, porque ninguém devolve modse) era geriátrico. O ser já se encontrava desconcertado com aquele ocorrido e não bastava ter que usar um corpo estranho entre as pernas, tinha que ser um corpo muito estranho e grande: um modse do tipo Godzilla. Putz, lembro muito da cara dele. Sem palavras. Eu mal andava, parecia que estava cagada.

Pois bem, passou o evento. Eu queria esquecer que aquilo tinha acontecido. Um belo dia, não muito distante da minha mocidade, chega uma carta da minha prima de São Paulo. Ainda devo tê-la guardada, qualquer dia acho, mas começava mais ou menos assim:

“Oi Nanda,

não fique brava com a sua avó…”

Só para me prevenir, dei dois passos para trás e fiquei brava ali, na primeira frase.

“… ela contou pra minha avó que me contou que você ficou mocinha. Parabéns!”

Minha prima escreveu “não fique brava com a sua avó” e eu li “fique brava com a sua avó e não fale com ela nunca mais.” Fiquei muito brava e fui tirar satisfações, o que não surtiu nenhum efeito positivo nas notícias que ela espalhou a meu respeito no futuro. A única coisa que mudou é que ela acrescentou o adjetivo “rebelde” quando se referia à minha pessoa: “Sabe, Magdalena, Nanda comprou uma saia verde e continua rebelde…” Foi isso que mudou. Eu mudei. Fiquei mais rebelde sim, mas não culpo os hormônios, culpo minha avó que espalhou aos 7  ventos que eu tinha menstruado. Os hormônios só entraram pela mesma porta que minha avó abriu.

É isso. Notícias, talvez fofocas, são fora do nosso controle e se espalham, feito piolhos e lêndeas no ouvido dos outros.

 

 

 

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