17 de janeiro de 2013

“Não é mole ser mulher nesse país… Num país que diz que quem gosta de homem é veado, mulher gosta de dinheiro.”

Hoje, uma amiga, conversando sobre o meu blog, soltou essa frase e ela ficou latejando na minha cabeça. Em seguida, latejou no meu coração. Não precisou de mais tempo e me deu raiva. E quando estou com raiva, escrever cai bem.

Tenho raiva dessa sociedade babaca machista que insiste em comercializar a mulher. Isso porque ainda tem esse tipo de falsa representação do feminino que ganha dinheiro se apresentando como frango de padaria nas TVs, nas revistas, na rua. Já dizia Dercy Gonçalves, se sexo segurasse homem, as putas estavam todas casadas! Frase e constatação genial!!! Não, cara mulher, não é necessário usar saia curta, biquini cravado no cú (foi mal, tô irritada), peito duro quase tocando o queixo, assim como não precisa saber “quicar no calcanhar” por 20 minutos sem parar para se encontrar um cara bacana para construir uma história legal com você. Não sei se sou machista ou feminista por pensar que não precisamos usar o corpo, ou melhor, somente o corpo como ítem de prateleira. Já usei e uso decote, já usei e uso saia curta, não me considero “puta” (adjetivo machista).923261_444085759017743_1023214177_n[1]

Eu achava que era privilégio do nicho que eu frequentava, o remo, de só poder ser incluída em duas categorias: das putas (gostam de sexo) ou das sapatões (não deram pra eles ou não usam unhas douradas). Mas não, a sociedade em geral é assim. Tem também a categoria das boazinhas, só deram para dois caras na vida, não usam roupas ousadas, são simpáticas (vai ser antipática pra ver o que te acontece!) e, em geral, como fator agravante da condição de boazinha, já tomou um monte de chifres e, ou perdoou, ou não soube de nada. Concluindo, é a boazinha que só se ferra e, por isso, é chamada de boazinha corna. Vejam, não tem categoria moralmente saudável para mulher.

Comecei a remar com 12 anos de idade, só tinha beijado 2 meninos na vida, inclusive era beijo de língua de um lado só. kkkkkkkkkkkkkkkk Era um objetivo beijar de língua virando a cabeça para os dois lados. Pra você ver o nível da inocência. Ninguém, repito, ninguém tinha passado a mão na minha bunda, quem dirá no resto. Aos 14, tive meu primeiro namorado, um dia ele tentou passar a mão no meu peito por debaixo da blusa!!! Aquilo pra mim foi um insulto!!! Fiquei uns 5 dias sem falar com ele. O que ele estava achando? Que eu era uma puta?! Calma, lá, a gente estava namorando há uns 2 meses, isso seria no mínimo natural, mas fui criada pela minha avó, levada a acreditar que se você transar antes do casamento ninguém casa com você (gargalhadas) e que o espermatozóide é um bicho (bicho) muito inteligente e que sabe o caminho. Em outras palavras, “minha filha, se você não der e o cara tentar gozar fora, o astuto do espermatozóide pode saber o caminho do seu óvulo pelo olfato, aí você engravida e eu não quero ser bisavó agora, seus pais me matam.” Vovó gastou essa ladainha aí e eu ainda era virgem. Eu ria e ela ficava mais brava. Continuando o raciocínio, pela minha criação, as coisas tinham que ser devagar, vó católica, tudo é pecado, tudo é coisa de puta, depois me pergunto o que farei numa igreja com essa ideologia tosca.
Depois de 5 dias, orgulhosa de doer, fui escutar o que meu namorado, que também era do remo, tinha para me dizer. Prestem atenção: “Eu fiz porque achava que você já tinha feito um monte de coisas antes. Me disseram (homens mais velhos e recalcados do clube que tinham tentado me pegar) que você já tinha ficado sem blusa na rampa com um cara chupando os seus peitos.” Pausa, respira fundo… ” Que você tinha perdido a virgindade com o coqueiro do flamengo.” Um cara que inventa isso tem que ser premiado em genialidade. Não seria mais fácil inventar com alguém próximo? Na época, esse tipo de coisa me impregnava, tinha medo de tudo, me decepcionava quando ouvia uma fofoca. Teve um cara que era da categoria estreante. Todas as meninas queriam ficar. Eu achava ele um completo idiota que ficava tomando aminoácido de cavalo pra ficar forte. Forte só se for no grau de idiotice. Eu voltava andando pra casa e ele foi andando comigo. Nada demais, certo? Ele caminhar ao meu lado por 15 minutos significa que eu bejei ele? Que eu transei com ele? Que eu gosto dele? Nãooooo, Senhor! Embaixo da minha casa, o cara começou a se declarar e chorou! Cho-rou! Eu inocente, chorei e disse: “Desculpe, gosto de outra pessoa.” Podem falar o que for, mas tenho um orgulho imenso da minha sinceridade com os meus sentimentos. Eu gostava de um cara que só ficava comigo nas festas e não queria namorar. Eu gostava e ponto, fazer o quê? Sabe o que aconteceu depois? Claro que vocês sabem, ele espalhou que ficou comigo. Adiantava brigar, desmentir, agredir o asno? Fui me fechando… Defendida de tudo e conhecida como a marrenta. Um tempo depois, novo rótulo: sapatão. Claaaroooo! Não tá dando pra geral, não tá namorando, é sapatão! Estava com uma super amiga numa festa após o campeonato brasileiro e um remador do Vasco queria ficar com ela, os amigos alertaram “chega nela não, ela é namorada da outra ali.” A “outra ali” era euzinha, hetero convicta, taxada de sapatão por não estar incluída no conjunto das putas, usar roupas largas e ter uma melhor amiga. Essa fama durou, hein… Eu tinha uns 17 anos quando ela começou. Ano passado, quando engravidei, tive que engolir “Ué, ela engravidou? Não sabia que tinha alguém comendo ela, não era sapatão?” Gente pequena…

Não vou continuar com as aventuras de Fernanda numa sociedade escrota machista, pra contar tudo tem que ser livro!

O que quero dizer é: Vocês dizem que mulher gosta de dinheiro. Por mim você faz o que quiser com o seu dinheiro. Se dinheiro fosse o meu problema, eu já tinha resolvido. Gosto de homem de verdade, onde estão eles?

 

Segunda imagem retirada da página do Facebook Moça, Você é Machista? https://www.facebook.com/pages/Mo%C3%A7a-voc%C3%AA-%C3%A9-machista/346411042118549?fref=ts

 

 

9 Postado por: Categorias: Era pra rir, feminismo Tags: , , , ,

9 Comentários

  1. rs… Apesar do drama, muito legal mais uma vez o seu texto Fernanda. E parabéns pela sinceridade e desprendimento em abrir suas experiências.
    Bem, eu cresci em outro meio, não tinha amigos escrotos como estes seus ai do remo e quando via que eram escrotos me afastava deles. As vezes eu me achava um “bundão” por ser uma pessoa um pouco mais restrita mas nunca me misturei com quem não prestava. Enfim, talvez por isso, essas histórias também me surpreendem e cada dia te compreendo mais. hahahha
    Agora, o lance do coqueiro foi o mais bizarro e criativo que podiam inventar.
    Com todo respeito mas,… que babaca.
    Vá pro KCT!

  2. Anonymous

    Fernanda, sou literalmente sua fã!! Na escrita, no jeito de ser, por aguentar a barra de ser mãe sem o apoio de um pai e ainda ter sua dose de bom humor nas “tragicômicas”. Porque não escreve um livro? Acho que todos iriam adorar!! Bj ((((((:

  3. Dani Entrudo

    Hoje parei pra ler alguns dos seus textos que já haviam me chamado a atenção pelo título do Blog “mulher que rema com lobos”… cara, toh rindo muito desse lado daqui e me identificando tb, se o carioca é machista, tu imagina o gaúcho e (algumas) gauchas para nossa tristeza!
    Bjão guria.

    • Fernanda Nunes

      Ih, minha nêga… Quando você chegar aqui te conto umas boas! Com certeza os gaúchos são piores, mas a mulherada em geral é a maior responsável pelo machismo porque elas apoiam! bjs

  4. Maria Gomes

    Fê, como você lembra de tantos detalhes? Quando eu me lembro de alguma coisa , geralmente preciso dar uns 50% de desconto pois os detalhes estao confusos na minha memoria pessima. Eu até curto esse meu lado DORI ( peixinha do Procurando Nemo) assim nao guardo nada que nao me acrescente. Adoro o seu blog e tô apaixonada pelo Bento!!bjos Maria

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