9 de junho de 2014

É engraçado como me encontrei na maternidade. E como nessa maternidade encontrei mais coisas que um filho e uma mãe. Não consigo mensurar o quanto aprendi até aqui. Essa riqueza não se mede.

Algumas pessoas que eram apenas conhecidas, se aproximaram de mim nessa maratona Bento e, sei lá o que tinha na água da minha casa, um tempo depois engravidaram. Será que ficaram com inveja da minha loucura amorosa?

A Sarah foi uma.

Me permita dizer que fiquei 27 horas em trabalho de parto. 15 horas em franco trabalho de parto. Terminei numa cesariana. Nem por isso, deixei de acreditar no parto normal. Nem por isso deixarei que querer no meu próximo. Nem por isso deixarei de incentivar com informação adequada quem for!

Por que não consegui? Como já me perguntei isso! Muita gente veio me dizer que meu filho era grande, que sou pequena, que sou atleta, um monte de coisas! Pra mim só tem uma razão: eu estava emocionalmente desamparada. Tinha medo. Não da dor física, mas da dor emocional do que poderíamos vir a enfrentar. Meu corpo não estava aberto.

A Sarah teve uma gravidez tranquila. Sem intercorrências. Optou por um médico do seu plano e ia pagar a tal taxa extra para ter um parto normal. Chegando na 39a semana, fez uma ultra que dizia que o seu filho estava com 4kg. Sabemos que ultras erram até 1kg pra mais ou pra menos. No telefone seu médico marcou uma consulta para o dia seguinte para ver se ela tinha passagem.

Já entenderam?

Sarah me ligou angustiada com voz de batalha vencida dizendo que pelo visto não ia rolar o parto normal que ela queria. Ia no médico para ver se tinha a tal da passagem. Fiquei muito chateada. Nos 45 minutos do segundo tempo minha amiga ia ter o seu parto roubado. E eu nem podia sair xingando o médico enfurecida pela falta de respeito. Tinha que deixá-la tranquila.

No dia seguinte, foi lá e bingo! O cara me-diu a passagem e viu que ela não ia conseguir parir o próprio filho. Ainda com requintes de crueldade disse que o seu bebê podia morrer entalado. Vou te dizer uma coisa, se a Sarah, um mulherão daquele tamanho, não tem passagem, nenhuma mulher nessa terra tem. Nenhuma. Minha avó, por exemplo, de 1,50m, calçado 33, não teria 4 filhos.

O fofo agendou a cesariana para 3 dias depois. Eu tinha tempo.

“Sarah, você pode entrar em trabalho de parto pelo menos. Se não der, ok. Seu médico está querendo agendar uma cesariana por comodidade. Além do mais, cesariana eletiva com 39 semanas pode ter complicações respiratórias, vamos ver uma segunda opinião?”

Primeira coisa que fiz foi procurar uma Doula voluntária que pudesse acompanha-la. Depois, postei o caso em diversos grupos de parto pedindo opiniões e referências científicas. Mandei todas as respostas pra ela. Ainda consegui um DVD do filme O Renascimento do Parto para ela ver.

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Karina, a Doula, foi com a Sarah na Maternidade Maria Amélia para ter uma segunda opinião e… Disseram o que nós já sabíamos. Mandaram ela pra casa, ela não tinha indicação para cesariana, seu bebê estava ótimo e desproporção cefálico- pélvica, a famosa passagem, só é mensurada intraparto.

Nesse dia, a Sarah ainda reticente e preocupada, ligou para o médico e desmarcou a cesariana. Disse a ele que entraria pelo menos em trabalho de parto.

Ufa?

Calma aí, acabou não. Ainda pressionada pela família, Sarah me ligava constantemente desanimada, pois estava pagando de louca perante a família do namorado e a sua. Todos aterrorizados pelo prognóstico do médico cesarista descarado. Agora pergunto, que tipo de mãe em sã consciência coloca a vida do filho em risco? Sarah de maluca não tem nada. As informações estavam chegando a ela e a decepção com o médico era inevitável.

“Fê, tô muito decepcionada com esse médico… Como que ele me enrola até 39 semanas e tenta me entubar essa?!”

O segundo grande passo no processo foi quando o seu namorado resolveu apoiar sua decisão. Jogou o medo fora e junto com ela buscou evidências, embasamento e mais segurança de que estavam fazendo a melhor escolha para a vinda do seu filho.

Martelei muito isso com a Sarah. Mesmo que ela temesse não conseguir ter um parto normal segundo a sua vontade, pelo menos entrar em trabalho de parto. Pelo menos esperar a hora que Isaac decidisse vir ao mundo.

Foram visitar de novo a Maternidade Maria Amélia. Antes, tinham intenção de fazer no hospital Panamericano, hospital coberto pelo plano. Eu e a Karina alertamos que no Maria Amélia, acompanhada de uma Doula, ela tinha mais chances de ter o seu parto respeitado.

Certo dia ela postou no Facebook o vídeo documentário sobre violência obstétrica. Ali eu tive certeza de que ela estava consciente da sua escolha.

Hoje às 6:20 da manhã recebo uma mensagem por whatsapp. Sarah pariu naturalmente Isaac que adentrou esse mundo com 56 cm e 4,1 kg. Não fez episiotomia e teve uma laceração leve, grau 1. (Foto da mensagem no topo do post)

Chorei. Chorei mesmo. Foi como se eu tivesse parido. Como se eu tivesse nascido.

Ganhei o dia, a semana, o mês, o ano.

Sarah e Ian ganharam um filho.

Isaac ganhou o mundo.

Parabéns à Sarah e ao Ian pela coragem. Não pelo parto natural de um bebê de 4kg, mas por terem rompido com o sistema em grande estilo!

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