2 de abril de 2014

Ainda que me chamem de feminazi. Ainda que critiquem a pesquisa. Ainda que considerem xilique. Os fatos não mentem.

Ser mãe no Brasil é um cabo de guerra. Durante a gestação e o seu parto, de um lado da corda você, tentando emponderar-se do seu corpo, do outro o estado despejando regras e leis baseadas em… Mitos.

Na época que Bento estava para nascer, abri mão de um parto domiciliar pois o Conselho de Medicina do Rio de Janeiro estava praticando uma certa caça às bruxas. Uma espécie de santa inquisição com as mulheres que desejavam um ambiente mais familiar para parir. Os médicos tinham os seus CRMs ameaçados caso fossem contra às ordens. Manifestações e manifestações pró humanização do parto e direito de escolha da mulher.

Alerto que se você teve um parto humanizado e diz que foi horrível, certamente o seu parto não foi humanizado. Grandes chances de alguém ter vendido tilápia dizendo que era salmão. O parto humanizado tem como princípio respeitar as suas escolhas. E por que tanta gente se mobiliza a favor dele? Porque no Brasil não respeitam as nossas escolhas. No Brasil, não respeitam o momento mais sublime de uma mãe com o seu filho: o nascimento.

Fui hospitalizada com uma equipe bacana. Enfermeiras do hospital limpavam o chão e discutiam sobre coisas cotidianas enquanto eu tentava me concentrar. Não me deixaram caminhar até o centro cirúrgico, tive que ir acamada. Queriam até se meter no prendedor de cabelo que eu usava. Permitiram que meu filho fosse levado ao berçário, ninguém me consultou. Liguei por uma hora para o berçário DEVOLVER o meu filho. Uma enfermeira me administrou dipirona, substância a qual sou alérgica, logo após o meu parto. Depois de 27 horas de trabalho de parto, a mulher me deu um remédio sem me questionar nada e sem olhar para a pulseira no meu punho que dizia “SOU ALÉRGICA À DIPIRONA E AAS”. Surtei. Sabia que teria que tomar antialérgicos na hora para não ter edema de glote e que isso me deixaria sonada o dia todo. Falar disso me aquece a alma de raiva. Mas o pior ainda estava por vir. Entrou a médica plantonista achando que eu só estava dando um ataque e exagerando, enquanto começava a sentir falta de ar, característica das minhas crises alérgicas. Além de não me administrar rapidamente os antihistaminicos, tentou me deitar completamente, ainda que eu pedisse para me deixar inclinada pois melhorava minha falta de ar. Disse que quem mandava ali era ela e que faria comigo o que quisesse. Ela e mais uma enfermeira aplicaram uma injeção em cada braço ao mesmo tempo e entrei em taquicardia. Em seguida, a mesma me deu uma terceira injeção na perna. Me tratou feito lixo, sem respeito. No final, eu ali naquela cama cansada, sem o meu filho e imobilizada com soro, ela me disse : “estou tentando ser sua amiga, mas você está muito nervosa.” Se isso é amizade, companheira, prefiro morrer sem. Isso é perversão.

Um beijo para a Perinatal de Laranjeiras e seus serviços prestados de forma amorosa. Não me importa a cegonha no telão quando um bebê nasce, se como médicos, temos representantes do diabo.

Ah! E eu nem sofri tanto. Veja esse caso aqui

Imagina você em trabalho de parto, com tudo em cima, e lá para uma certa hora, invade a sua casa polícia com mandado judicial para te levar para o hospital para fazer uma cesariana à força. Parece mentira, mas não é. Parece um fato isolado, mas não é. Adelir procurou o hospital com dores lombares e no baixo ventre. A médica Andreia Castro, examinou a gestante, e viu que o feto estava sentado – sabemos que bebê sentados nascem de parto normal. Além disso, Adelir já tinha tido dois partos roubados, quer dizer, duas cesarianas questionáveis porque ela havia passado das 40 semanas de gestação. Adelir tinha desejo de fazer um parto normal, estava acompanhada de uma Doula, seus exames estavam ótimos e como não se encontrava em estágio avançado de trabalho de parto, pediu liberação para ir pra casa, voltaria mais tarde. Assinou seu termo de responsabilidade e foi. Sabemos também que mesmo que o seu parto terminasse em uma cesariana, o ideal era que ela vivenciasse o trabalho de parto. Estava sendo acompanhada pelo marido e uma Doula que garantiu que mãe e bebê encontravam-se bem. Mas aí, a médica se deu ao trabalho de acionar a justiça. A juíza Liliane Maria Mog da Silva aceitou os argumentos da médica e enviou a polícia para a casa de Adelir. Adelir teve mais um parto roubado e sem direito à acompanhante, direito esse concedido por lei federal.

Adelir é só mais uma que o Estado venceu o cabo de guerra de forma covarde.

O mais engraçado é que o momento que o Estado não deve intervir, mete a mão e quando mais à frente a mulher precisa do estado para prover cuidados, saúde e educação, ele lava as mãos.

Por aqui fico com o meu lamento e solidariedade à Adelir.

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