29 de agosto de 2013

Segunda, deixei o Bento com a minha mãe e fui correndo assistir “O Renascimento do Parto”. Essa é a sua última semana de apresentação e eu não podia perder.

Durante o dia, preparei meu estômago, pois na minha cabeça já havia uma ideia do que o filme me causaria. Eu sabia que ia sair de lá muito louca.

O filme, em primeiro lugar, é educativo. Como a Laura Uplinger, psicóloga, disse, além de todas as matérias que aprendemos no colégio, devíamos aprender sobre parto. Em algum momento de nossas vidas, tanto mulheres quanto homens, nós passaremos por ele. No mínimo, nascendo. Todo mundo nasce. E ainda passaremos de novo, talvez várias vezes. Parindo, tendo irmãos, sobrinhos, afilhados. O que for. Vai passar por você. Seria coerente aprendermos no colégio.

Se você conhece alguma grávida ou mulher que pretende engravidar, fale do filme pra ela. E pro marido também. O homem deve ter noção do quão hostil é o cenário dos partos no Brasil. Ainda que lamentemos o nosso sistema de saúde – de doença, na verdade – o que podemos fazer nesse momento é nos informar, divulgar essas informações e não deixar nosso poder nas mãos dos médicos. Infelizmente, no Brasil, para termos um parto respeitoso às nossas escolhas, temos que pagar por ele.

Chorei do início ao fim.

Quando apareciam aqueles partos cheios de emoção, vida e potência, nossa! Nem sei descrever o que sentia. Me lembrava do meu parto que terminou numa cesariana. Tudo bem que era indicada, mas a verdade é que a mulher tem que estar relaxada e no lugar que ela se sente mais segura. Será que foi isso?

A primeira explicação para meu parto ter terminado em cesárea era que meu bebe era grande demais (nasceu com 54,5 cm e 4,4kg) e que o colo do meu útero estava muito tenso. Pra mim, hoje, existem outras possibilidades. Pra começar, considero hospital um lugar completamente desagradável. Meu desejo inicial era ter meu filho em casa, mas esmoreci com a possibilidade de ter que pagar dois profissionais, já que o conselho de medicina nos presta o desserviço de proibir o parto domiciliar – mesmo que as evidencias científicas mostrem que ele apresenta o mesmo risco que o parto hospitalar.

[Aliás, muito importante, todo o filme é baseado em evidências científicas, não tem achismo. Também não tem nada de hippie, como ouvi na saída do filme um cara dizendo que achou o filme meio vegetariano. Comentário burro e idiota. A busca de um parto natural está ligado a inúmeros benefícios fisiológicos pra mãe e pro bebê.]

No filme apareceram casas de parto lindas, lugares que inspiram natureza, parto normal, liberdade. Difícil se sentir à vontade num lugar que sabemos que favorece a cesariana. Mesmo que tenha uma sala de parto humanizado, a filosofia do hospital é outra.

Outro ponto que me marcou, e que me arrependo profundamente, é por não ter tido uma doula. A doula é uma acompanhante especializada. Ela te apoia durante o parto, faz massagens, te tranqüiliza. O diferencial dela para uma amiga ou um marido, por exemplo, é que ela sabe o que está acontecendo. Isso traz segurança. Tenham uma doula, ela diminui a possibilidade de uma cesariana, assim como o número de intervenções. O conselho de medicina também proibiu a presença das doulas no parto durante um período. Fica minha pergunta se isso não beira a maldade. Logo médicos estudiosos que levam tanto tempo para se formar! Será que nunca abriram um artigo científico qualquer sobre o papel das doulas? Me cheira mal. Me cheira muito mal. Pelo que parece tem algo que não faz com que o CM deseje que as mulheres tenham parto normal. Mulher grávida no nosso país é produto de abate.

No filme, a Dra Ana Cristina Duarte comentou algo que me foi novo, quando uma mulher sofre uma intervenção no parto, esta faz com que outra seja necessária mais à frente. Portanto, quanto menos intervenções, mais chances do parto ser fisiológico.

Tenham uma doula.

Bom, minha própria estória era delicada. Eu estava segurando Bento e o mundo nas costas. Sofri muito abandono na gravidez. E talvez, o que mais tenha me derrubado tenha sido o do meu pai. Me anunciou uma viagem para Croácia com amigos no período previsto pro nascimento do Bento. Foi horrível. Me senti completamente desamparada. O que aconteceu foi que eu e Bento acabamos esperando meu pai. Bento nasceu com 42 semanas e 5 dias. Sem problemas quanto a esperar, mas depois de um determinado período o bebê só fica crescendo na barriga, o que pode ter contribuído pra cesariana. Ou seja, seu estado emocional influencia bastante.

Por vezes, soltei alto no cinema “Filha da Puta!”. Bebês sendo aspirados, manuseados com brutalidade, levando tapas na bunda, sendo esticados para medir sua altura, mães separadas dos seus filhos após o nascimento, bebês nascendo moles e dorminhocos por cesarianas eletivas, mães sendo ENGANADAS por médicos para fazerem uma cesária. Tem gente que mesmo sabendo dos riscos de uma cesária eletiva e opta por ela e tem gente que não. A maioria quer o contrário, mas durante o pré-natal é desencorajada “Vamos ver se você vai conseguir…” Por que não conseguiria? Tem mil motivos para conseguir, no entanto só ouvimos o porque não.

[Bento não veio diretamente pra mim mesmo que meu parto tenha sido humanizado, portanto, tenham seus planos de pós parto também. Eu queria que ele tivesse ficado mais tempo pele com pele. Todos os sinais vitais podiam ser aferidos com o ele no meu colo. Eu dei “oi” e o levaram. Quando subi fique ligando 1 hora pro berçário. Ou seja, meu bebê que passou quase 10 meses no quente da minha barriga, sai e se depara com frio, luz, mil toques desconhecidos e na primeira hora de vida ainda é separado de mim que sou a única pessoa que ele conhece. Eu estava muito atordoada e não consegui pensar nisso tudo. Durante o filme fiquei morrendo de raiva! Cheguei em casa, abracei o Bento, dei de mamar e conversei com ele: “Desculpa filho, não ficamos juntos na sua primeira hora. Falha minha. Te amo.” Planejem. Parto tem que ser planejado.]

Ah, o Márcio Garcia… Lembro quando grávida via o trailer do filme e aparecia ele falando da enfermeira manuseando o seu filho como um frango. Quando abordada, ela responde que fazia aquilo todos os dias e o Márcio (íntima) rebate que ela sim, mas o filho dele não, ele estava fazendo tudo pela primeira vez. Me debulhava em lágrimas toda vez que via essa parte. Todo profissional que lida com nascimento tem que entender isso. O nascimento é um choque. É tudo novo pro bebê, portanto, não piore as coisas. Se não puder ser afetuoso, no mínimo seja delicado. Ou vá cortar lenha! Não trabalhe com obstetrícia, ora bolas.

Ah, a mulher do Márcio Garcia. Linda maravilhosa. Teve uma cesariana, um parto normal hospitalar e um parto domiciliar. Minha inspiração. Me emocionei- a maternidade aumenta sua produção lacrimal que é uma beleza! Ela – e pelo menos mais 5 pessoas que conheço – tiveram parto normal depois de cesária. Tirando esse mito de que cesária uma vez, sempre cesária.

Cara, assistam. O que eu quero dizer com esse monte de informações é: assistam, informem-se, divulguem.

 

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