Com a Macaca

Olhei para o céu tal como Shakespeare e perguntei:

– Ó lua, lua, lua, tu mãe da noite e dos ciclos mais primitivos, me diga, quando deixarei de ser moleca?

– Nuuuunca…

Era minha própria consciência respondendo e nem era novidade pra mim. Me mate, mas não me faça duvidar que ainda tenho 17anos. Eu sou assim: jovem. Espevitada. Com cara de garotinha.

Ainda lembro de uma senhora que me cedeu a vez na fila do mercado com cara de pena, pois eu parecia uma adolescente grávida. Sabe como é velho né, fala o que quer. Talvez eu seja uma jovem velha. Falo o que quero mesmo achando que muitas vezes não devo. Escapole. A senhora disse “tadinha, cê tem o que, minha filha? 17 anos? Tão novinha e grávida já…” Olha, tenho 17 por um lado, mas minha certidão acusa 27, também não entendo, mas sei que não sou digna de pena. A não ser que seja para furar a fila. Agradeci, paguei minhas coisas e me mandei rindo.

Quero morrer moleca.

Vovó Fernanda contando as suas palhaçadas para os seus netinhos estreando o seu cabelo roxo. Ou azul da cor do mar. Unhas verde esmeralda. Vai ser uma farra. E quando eles virarem adolescentes? “Vai encapar esse pinto Joaquim! Limpou direito a pele do piru?” Joaquim vai ficar ruborizado com a avó moderninha.

Mas isso é papo para outro post. Como serei eu avó? Por enquanto só posso dizer de como está sendo ser eu mãe. O que também é um tanto engraçado. Um mix de confissões de adolescente com Indiana Johnes.

Nesse domingo, fomos ao sítio do Brow, nosso grande amigo e dono do Refeitório Orgânico de Botafogo. Sem querer puxar saco, tá pra existir lugar melhor. Eu e Bento temos hora marcada todo sábado lá. E por ser um cara tão querido, fomos prestigiar o aniversário da neta dele em Vargem Grande.

Já na chegada, notei que o caminho era cercado de bananeiras. Uma pequena estradinha com um bananal enorme cercado por arame farpado. Uma mina de ouro. Por segundos pensei “Quanto deve ser uma casa por aqui?” Logo vi que era piração da minha cabeça e deixei pra lá. Um dia Bento cansa de bananas eu me mudei pra onde o vento faz a curva por conta de bananas. Não é nada sensato.

Curtimos a festa. Banho de piscina. Comida natureba fresquinha. Ataque de formigas ninjas no meu cremoso. Brincadeira de jogar a bola da sinuca no pé da mãe. Pessoas legais. Música e muita natureza.

Mais tarde, fomos pegar o carro para ir embora. Andando por parte da estrada, fui fitando as bananeiras. Pensando como eu queria que elas coubessem no meu quintal. Pensei na minha horta caseira. Poxa, podiam caber bananas. Imagina a economia?

Se um cara me chama pra sair e diz que tem uma bananeira, não precisa fazer mais nada. Já me conquistou.

Fui ficando mais compenetrada nas bananeiras, até que comecei a avistar cachos ainda verdes. Continuei andando. A conversa da galera que seguia junto ficava distante. Até que…

– Vou pegar bananas. Será que dá? Vou pegar. Não vou resistir.

Riram, mas não contavam com a minha astúcia – ou a minha lisura.

– Segura aqui a minha mochila…

Me joguei no chão e arrastei de barriga para passar por baixo do arame farpado. Subi numa pedra, debrucei-me numa bananeira com uma mão e com a outra me atraquei com o cacho de bananas. Comecei a arranca-las. Um amigo me cedeu um saco. Eram muitas, umas 30. Dei uns saltos batendo palma e emiti barulho das selvas, semelhante a dos meus primos macacos.

– Ô macaca! – gritavam me sacaneando.
– Isso porque você não viu o meu sovaco!

Saí vitoriosa. Me arrastei de novo no chão. Notei que esqueci os chinelos do outro lado e me arrastei mais duas vezes. Acordei lanhada por conta dessa ralação por debaixo da cordinha de arame farpado no estilo é o tchan sangrento. “Ordinária!” Ordinária sim, mas com bananas, meu amigo, muitas bananas.

Por fim, um amigo soltou.

– É uma moleca, neh…

Sou sim. Fui. E sempre serei. Mas alto lá! Não sou mais uma simples moleca.

Sou pior – e logo, melhor – que a moleca dantes.

Sou uma moleca que deu cria.

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