Parece mentira. Que tô inventando. Que tô forçando a barra. Mas pra mim isso só se explica pela teoria da reencarnação.
Fico tentando que ele fale “mamãe”. Está falando tudo, inclusive o nome das cachorras – apesar de chamar as pretas pelo mesmo nome. Repete as coisas que falo, por que não repetiria “mamãe”?
Sábado, resolvi dar uma ajuda:
– Quem é essa aqui? Ma-mãaaae?
Olhando firme nos meus olhos, respondeu:
– Pa-pa-iiiiiii
Fiquei confusa e mudei a prosa.
Pensei que fosse um fato isolado. Não havia mostrado foto do pai ou mencionado o nome. Saiu dele. Pensei em contar para o pai, mandar uma mensagem ou um email, mas ia parecer palhaçada minha. Seria meu filho um comediante nato?
Até que ontem, repeti minha investida.
– Ma-mãaaae…
– Pa- paiiiiiiii…
– Cê tá brincando, né?
Ri desconcertada e achei que era um sinal divino. Ou do Bento mesmo.
Mandei um email para o pai.
Digamos que veja o pai a cada 15 dias, às vezes, uma vez por mês. Confessemos que a primeira vez que mostrei a foto dele com o pai e mais pessoas numa foto, o safado tocou no meio da fuça do pai e disse “papaiii”. Quase caí pra trás. E ele repetiu mais e mais vezes. Pediu mais e mais vezes, apontando para o meu celular, para ver a foto do pai. Aí, passo para uma foto minha e silêncio.
Alguém possui uma explicação viável? Amor?
Mandei um email: “Olha, não tô inventando.Não, não tô.”
E finalizei, para que o pai tivesse certeza da veracidade dos fatos que aqui conto:
“Moleque ingrato com a mãe.”
Eu ri. No fundo, no fundo, fiquei feliz.