2 de junho de 2012

Hoje, fui fazer uma visita guiada na Perinatal de Laranjeiras para conhecer a maternidade e suas instalações. Estava super empolgada e feliz. Fui com uma amiga e a nossa professora de ioga para gestantes. Lá tinham mais dois casais que nos acompanhariam no tour. Pegamos o elevador e saltamos num corredor cheio de cegonhas nas portas. Entramos num quarto onde a guia ficou explicando o que tínhamos direito ou não, nos deu uma pastinha com milhões de anúncios e ficou falando umas baboseiras sobre parto humanizado. Nós nos entreolhávamos. Até então estava tudo certo.

Foi aí que saímos do quarto para visitarmos o berçário. Naquele corredor frio com jeito de hotel infantil, fui olhando as portas. Em cada uma tinha um cartãozinho com o nome do bebê, nome do pai e da mãe, o pézinho marcado, peso, altura e data de nascimento. Me bateu uma tristeza enorme… O que vou escrever no nome do pai do bebê? Um traço? Nada? Deus? Ou o próprio nome do pai que está desaparecido há 2 meses? Pedirei para não usar cartão? E depois se eu guardar esse cartão de recordação, como mostrarei ao Bento mais tarde? Jogarei fora e não mostrarei nada? Como vou poupar meu filho desse sofrimento? Como vou me poupar desse sofrimento até ter meu filho?

Senti vontade de chorar. Vontade de jogar a toalha, dar três tapinhas no chão. Por que estou passando por isso? Por que meu filho que nem nasceu já está passando por isso? Eu tenho tantas perguntas, e parece que, como a morte da minha avó, não tenho explicações que me façam aceitar. Acho que talvez as tenha quando o Bento nascer. Acho que ainda não faço idéia do amor que estou para sentir. Acho que ele já veio com a missão de me deixar ainda mais forte, pois se eu tivesse optado pelo inicialmente mais fácil, que pra mim seria difícil – tanto foi que não fiz – não teria me entristecido ao visitar o lugar no qual terei o maior amor da minha vida.

Quando chegamos no berçário, vi aqueles bebês minúsculos manipulados pelas enfermeiras, e mais uma vez tive vontade de chorar. Tão indefesos… Bento é tão indefeso pra passar pelas minhas tristezas. Eu sei o esforço que tenho feito pra me manter de pé, trabalhando, fazendo enxoval, pagando consultas médicas enquanto algumas pessoas insistem em me bater.

A vida tem me batido muito. Logo agora que era hora de ser só carinho, parece que tem gente que não entende, tenho um ser indefeso na minha barriga, chora quando choro, ri quando rio. Tenha piedade. Preciso de colo. Não me faça chorar. Tem verdades que eu não queria estar vendo agora. Não preciso de mais abandono. Sou mãe solteira, isso já é doloroso e basta. As mulheres que são sabem do que eu estou falando. Não foi o que sonhei pra mim e pro meu filho. Nenhuma mulher sonha isso.

O berçário estava apinhado de familiares chorando, rindo, se abraçando, gritando. Me lembrei dos que não estarão lá porque não acham que fazem diferença e me perguntei: por que me importo tanto com quem simplesmente não se importa? Mais uma vez, o que falarei pro Bento? Como vão ficar essas marcas de abandono no momento mais frágil da minha vida? Conseguirei achar uma justificativa que me faça perdoar pra que meu filho conviva com pessoas que importam, mas não se importam?

Desculpem-me. A gravidez é um momento lindo, a minha também é, mas veio carregada de muita dureza que simplesmente acho que eu, ou melhor, nós não merecíamos.

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6 Comentários

  1. Anonymous

    tudo passa! meu tio avó que ja não esta nesse plano fisico. nasceu assim. sua carteira de identidade e passaporte a filiação era singular. ele se concentrou na vida, teve muita consciência, meteu a cara, subiu rapido na vida, foi chamado para trablhar na IBM, foi o primeiro a concertar maquinas de raio-x no brasil, teve um insight de ver que a petrobras construa galpoes e mais galpoes para estocar a parafina(derivado do petroleo), vendeu a parafina que custava quase nada para os estados unidos, montou 2 empresas em nova york e uma aqui no brasil, comprou 2 apartamentos em nova york, alguns na zona sul do rio, casa na serra, teve 3 filhos, consertava qualquer coisa. digo qualquer coisa!!!! tenho muito orgulho dele. sou adimirador dele ate hoje. sinto muita falta de nossa convivencia. ele era genial. no final das contas o pai biologico virou para ele e falou: se quizer posso te assumir como filho e alterar suas identidades. ele respondeu! agaro não preciso mais

  2. Fernanda, nem sempre quem tem o nome do pai tem sorte. Tem pessoas que ao lerem o seu post podem pensar: ai quem me dera não ter o nome do meu pai no cartaozinho. Vemos isso todos os dias nos jornais. Pais que batem pq o filho quebrou alguma coisa, pais que abusam, pais que jogam suas filhas pela janela etc. Minha mae cuida de 8 crianças que tem ou tiveram problemas com os pais. É triste e ao mesmo tempo lindo, pois eles agora finalmente experimentam o amor dos meus pais ( minha mae e padrastro). O amor não tem nada a ver com o DNA. O Bento terá o seu amor, amor da sua familia, dos seus amigos e etc. A vida nos testa a cada momento e você está passando praticamente por um vestibular para medicina! Aguenta firme! Eu não tenho tanto contato contigo mas penso sempre em você, acompanho seus textos e rezo. Rezo para que o Bento tenha muita saúde e que cresça orgulhoso da mãe que passou por tudo isso com maestria. bjps Maria

  3. Anonymous

    Coisas acontecem na vida que realmente não entendo ,não sei se é carma ou se é vacilo, só sei que acontecem…mas como tds falam a vida segue …acho isso mo doideira, mas a real é q tem que seguir msm …só posso imaginar q deve tarde sendo foda só imaginar, mas imagino, de verdade …bom ,mas tenha força e seja sempre fiel a seus pensamentos e siga …q vc vai dar um jeito …vc sempre da um jeito …e lembre ,não tem certo ou errado … saiba que tem mt gente querendo o bem de vcs …msm as que vc menos espera…vc vai ser uma otima mãe …sempre achei ….

  4. Fernanda, não sei se fará diferença qualquer comentário da minha parte aqui. Afinal nem nos conhecemos. Mas venho sempre ao seu blog porque gosto do seu jeito espontanêo, leve e engraçado de ver a vida. Quisera eu ter a metade de sua leveza. Mas sei que a vida pega pesado com a gente, e nem sempre dá para segurar a peteca e se manter leve. Como você estou grávida, e sei o quanto a gente se sente infantilizada e precisa de apoio nesse momento. Imagino a barra, que já não é leve, ainda mais pesada quando são apenas seus ombros para suportar. Meu desejo é que você encontre força e amparo nas pessoas amigas e querida, que eu imagino que você tenha uma porção!, e possa ficar bem para receber o Bento com todo amor!

    • Oi Elisa, a gravidez ensina muita não é? Eu, em geral, tenho uma postura muito forte, porém sou muito sensível e nesse período isso foi ampliado. Sei que tudo ficará bem e uma criança sempre vem pra somar. Muito obrigada pelas palavras e desejo que sua gravidez seja maravilhosa!

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