1 de março de 2020

Não é segredo pra ninguém: tô encalhada há um tempo. Pra me proteger da completa falta de tesão na vida que me assola, digo que os homens estão difíceis, estranhos ou que não aparece ninguém interessante. Ou que o remo não me permite. Ou que Bento não me permite. Fazendo a cara mais lavada do mundo, sinto um olhar pairar sobre mim. Deus ri, mas me acoberta na mentira. “Coitadinha…tsc tsc tsc…” Lá no fundo, sei: a culpada disso tudo sou eu. E a culpa da minha vida estar uma bosta, uma montanha russa sem fim e sem emoção, é minha também. Sou eu que não transo, não amo, não me apaixono porque aceitei que morri como mulher. Ou nem morri, minha mulher está hibernando – pra cacete. Casei com meu trabalho, meu filho e um eterno catar cocô de bichos que já me prometi que conforme forem morrendo, não terei mais.

Minha avó dizia o mesmo quando eu tinha 6 anos e implorava pra ter um gato. Dizia que eles a prendiam em casa, davam trabalho e ela não viajava por causa deles. Moral da história, por um pequeno espaço curto de tempo ela ficou sem bichos e a única viagem que fez foi até o Mundial, Extra e Prezunic pra pesquisar preço de comida. Moral da história, ela tem bicho até hoje. Moral da história, atualmente, é capaz inclusive de adotar as gambás do quintal e separar comida pra elas. Como não tenho a intenção de chegar a esse nível de loucura, sabendo que estou bem próxima tanto em costumes quanto em genética, tomei uma decisão:

ESSE ANO EU VOU TRANSAR – com fé, muito.

E, com sorte, gostar de alguém. Gostar só. Olha que nem tô na exigência de amar, hein! Gostar já tá de bom tamanho. É um pequeno passo para eu não me assustar e voltar pro casulo. Porque, afinal, nunca tive vocação pra lagarta e não é agora que vou ter.

 

Hoje mesmo, tive uma conversa muito séria comigo mesma:

-Acabou a palhaçada! Deixa de ser covarde, Fernanda! Bota um BBcream nessa cara. O Victoria Secrets morango com champanhe tá mofando no banheiro. Daqui a pouco, cê tá que nem a tia da esquina que leva migalha de pão pros pombo. Toma vergonha nessa cara. Vai criar, pombo? – sem direito à resposta, enfio minha cara no tanque d’água – Já viu sua sombrancelha? Tá parecendo o Caio Castro! E esse cabelo desgrenhado? É o quê? É Bethânia? – desculpa, Bethânia, te amo – Faz favor, Fernanda! Tu num me vai com esse macaquinho furado pra “acadimia”, mulher, é academia, não é garagem de remo, não – mergulho, minha cara no tanque novamente.

– Tá bom, tá bom. Chega. Vou transar. Ou não me chamo Fernanda Nunes Pegadora Leal Ferreira.

Enxuguei a cara, sentei-me confortavelmente na poltrona da minha sala e abri o tinder.

Não me segura. Vamo que vamo. Encantadora de macho e não de pombos. É nóix.

Me aguardem.

Aceito simpatia pra pomba gira.

Beija. E me liga.

Até mais.

 

 

 

 

 

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