15 de fevereiro de 2020

Eu lembro do dia em que parei de remar. Ou do dia em que me vi cogitar. Já estava formada. Cuidava de pessoas. As fazia andar. As fazia sorrir. Mexer um braço. Eu era uma semi deusa. Me sentia valorizada pelo que fazia. Organizava meus atendimentos. Investia em curso e equipamentos. Eu não tinha medo ou dúvida. Recém formada, me vi tendo que arcar com um aluguel para morar. Fui pra cima da vida, caí pra dentro. Eu não tinha outra opção: tinha que ser boa no que fazia.

O remo ia de mal a pior. Minhas costas não calavam a boca e a sensação de inutilidade ali dentro só aumentava. Meu corpo (e minha alma) não aguentavam mais. Precisava respirar.

Viajei para um curso em Salvador. Avisei à comissão técnica do clube mais de 1 mês antes – a temporada já havia terminado. Quando voltei, me apresentei para treinar. Aqueci. Era dia te teste de peso. O treinador, provavelmente, com amnésia ou antipatia espontânea, diante de toda a equipe, disparou gritos em minha direção. Disse que eu não faria os testes porque vinha faltando.

– Ou você sai pra correr ou pode descer e tirar suas coisas do armário e ir embora! – gelei.

Desci e me sentei na frente do meu armário. As lágrimas que caíam não negavam a humilhação que passava. Não negavam a dor que sentia – não era só daquele momento. Ela vinha sendo cultivada há um tempo. Por um segundo, pensei que, claro, ele queria que eu fosse embora, mas… EU VOU EMBORA NA HORA QUE EU QUISER. Levantei. Abri meu armário. Coloquei meus tênis e saí pra minha corrida fúnebre montada no meu orgulho e na minha tristeza. De cara vermelha, porém fechada, marquei meus passos no ritmo das lágrimas que caíam. Não emiti som além do fungar do nariz. Não era uma corrida. Era o início – ou meio – do fim.

Não fui embora naquele dia, mas murchei feito flor em vaso d’água. Amarelei, escureci, definhei. Até o dia em que não apareci mais.

Ninguém me ligou.

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