Saudade

Pra começo de conversa, estou na TPM. Informo isso para que a leitora entenda que minhas emoções estão à flor da pele. Não tô apocalíptica e também não me sinto embebida em drama, só tô parando pra olhar e sentir. Ninguém sabe dizer que a TPM é puramente química ou um portal espiritual ao qual as mulheres não conseguem parar pra acessar. Será que a natureza seria tão injusta a ponto de só deixar a gente louca uma semana por mês? Não creio. No fundo sou uma pessoa otimista.

Ontem fui dormir ouvindo umas músicas xamânicas e percebo que elas me levam diretamente ao meu coração. No dia a dia, quando tenho que imperar nesse masculino da ação, evito. Meu mundo anda no 2X, não posso parar. Mas ontem não, ontem eu precisava sentir. Muita coisa mudando na minha vida. Plutão tá lá em cima em conjunção com o meu meio do céu e, como já passei bem uns 6 anos de trânsito de Plutão, sei que as mudanças que a gente resiste só se tornam mais dolorosas. Trânsito de Plutão é sobre entrega pra se transformar ou então carregamos o peso de coisas já mortas nas nossas vidas.

Dormi, sonhei. E é sobre esse sonho recorrente que vim contar. Pra quem chega agora, fui criada pela minha avó a partir de uma certa idade, uns 10 acho. Antes disso, morava com meus pais e passava finais de semanas alternados nas minhas avós. Minha ligação com as duas sempre foi intensa e amorosa, sou grata por elas existirem na minha vida. Na adolescência, muito influenciada pela minha mãe (um dia conto sobre ela) tive uma relação turbulenta com a avó que morei, minha avó Rita. Aos 22 anos, saí de casa pra morar sozinha, já fazia terapia na época também e, dali, passamos a nos relacionar melhor. Nos 3 anos até a sua partida, pude ir almoçar e deitar no seu colo para que coçasse as minhas costas. Pudemos comer torta na esquina. Ver TV juntas.

Um dia me avisaram que ela estava no CTI com infecção urinária. Corri pra lá. Quando olhei pra ela, eu já sabia. Minha avó não iria sair dali. Foram 5 dias sem sair do hospital. Foi, sem a menor dúvida, a coisa mais dolorosa que já passei: ver a minha avó, o meu amor, ir embora. Pequenininha, loirinha ali naquela cama de hospital sem eu poder fazer nada. Minha avó partiu, coincidentemente, há 15 anos atrás.

Essa noite sonhei com ela. Um sonho confuso que misturava a casa que a gente morava, primas, Bento, pessoas nada a ver e a mesma angústia: a de querer vê-la, estar com ela, a saudade. O que me impressiona nesses sonhos é que acordo com os olhos molhados, ou seja, eu sonho que estou chorando e choro na realidade. Choro a ausência da minha avó apesar de sentir permanentemente a sua presença no meu coração como um guia amoroso, empático, que sempre buscou acima de tudo o bem das pessoas ao seu redor. Minha avó na sua experiência de vida extremamente simples e valente me ensinou a batalhar por mim, pelos que amo e pelos meus diferentes. Meu sonho com ela nesse momento em que tudo em mim se transforma tão depressa vem pra me dar a direção para o que importa:

Passar à diante o seu legado de amor <3

texto de Fernanda Nunes

Deixe um comentário