Show de True mom

Aquele dia em que o seu vizinho cruza com você e diz:

– O bebê estava chorando bastante hoje, né? Que foi? Tá doentinho?

Você, uma mãe sofrida, insone, parece até que se maquiou no meio de um terremoto e acabou esfumaçando o zóio todo, responde humildemoriginal[1]ente:

– Pois é… Não sei o que ele tem… Deve ser dente.- quase chora.

Amiga mãe, companheira de dor e delícia, não sabe o que é? Diga que é dente. Ou é dente ou é virose. Dente é a melhor desculpa para qualquer enjoamento infantil. Se a criança acordou mala naquele dia, está sem febre ou nariz escorrendo, é dente. Se você beliscou a criança e quer disfarçar, é dente.- Atenção, não belisque a criança.

No caso do meu vizinho, fui educada e dei a resposta mais coringa que existe no mundo da maternidade: “é dente”.

 

Na verdade, a pergunta do vizinho soa como “o que você tem feito para essa pobre criança?” Sim, captei a mensagem. Como sabem tenho problemas com minha sinceridade. Lamento ter uma vida só, tinham que ser duas. Uma pra dizer as coisas viáveis e educadas e outra pra dizer o que penso de verdade. Uma espécie de Show de Truman – versão comédia, fatalmente.

Por exemplo:

– O bebê estava chorando bastante hoje, né? Que foi? Tá doentinho?

– Não, não tá doentinho, tá chatinho. Já tô por aqui com ele reclamando e se rastejando pela casa atrás de mim. Tá vendo minhas olheiras? Tô a ponto de matar o primeiro que passar na minha frente, sério mermo. Sabe que nem fazer cocô eu consigo? O moleque vem atrás de mim, se enfia no box do banheiro, amassa o sabonete, entra na banheira com água suja do banho anterior e eu ali, no trono, incapacitada. Hoje, pela manhã, desisti de tomar café da manhã, ele não saía do meu colo. Parecia que tinha alarme, se eu o colocasse a mais de 10 cm de distância, ele acionava o choro. Eu saía do quarto pro banheiro, parecia que estava saindo do Brasil pro Japão e deixando a criança sozinha. Nossa, que loucura!

O vizinho olha com espanto.

– Tá bom, vou confessar a verdade…- começo a chorar copiosamente – dei uns tapas e uns beliscões nele. – soluços – Deixei ele no quarto escuro chorando também, me disseram que tem até nome esse método, um tal de nana neném, conhece? Mas eu não fiz em nome do método, fiz pela minha falta de saco e irritação mesmo. Sou um mooonstroooo! Você não conta pra ninguém? Promete?

É claro que, em seguida, o vizinho acionaria o conselho tutelar – motivo pelo qual não valeria a brincadeira. No mínimo, acionaria a filha dele que é psiquiatra. Afinal, uma mãe estressada assim não é normal. As “moças” da TV não são assim Desde quando não dormir uma noite toda há 10 meses é motivo pra se estressar? Maternidade é só amor, passarinhos azuis cantarolando na janela e arco-íris na montanha.

Pra fechar com chave de ouro, me ajoelho aos seus pés com o nariz escorrendo de tanto chorar e digo :

– Me perdoaaaa! Diga que não sou má! Diga que sou uma boa mãe! Me ajudaaaaa!

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– Claro que te ajudo. -diante daquela situação como dizer que não?- Do que você precisa?

Seco os olhos, limpo o nariz, ajeito os cabelos, boto Bento no carrinho, levo até ele e digo baixo e firme, olhando no fundo dos seus olhos:

– Segura aí. Vou comprar um cigarro.

Coloco meus óculos, pego minha cadeira de praia e saio cantarolando “Solteiro no Rio de Janeiro para em qualquer praia…”

OU

Ajeito a amarração do biquíni e saio correndo e gritando “Liberdade! Liberdade!”

OU

Coloco meus óculos de praia e saio saltitando “Eu vou, eu vou, pra praia agora eu vou! Pararatibum pararatibum! Eu vou, eu vou, eu vou!”

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THE END

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