5 de dezembro de 2013

Ontem, fiz duas coisas tão bacanas que me deixaram leve e bem satisfeita.

Primeiro, dei aquela geralzona na casa. De vez em quando, me baixa um espírito de Maria e saio arrumando tudo. Adoro jogar coisas no lixo e doar o que não é mais necessário.

Arrumei meus livros. E fui sincera comigo mesma quanto à minha real possibilidade de leitura. Livros de astrologia, fisioterapia, acupuntura, aromaterapia, fitoterapia, romances, crônicas, dicionários, manuais. Caceta! Eu sou polivalente demais! Não tenho mais HD pra isso tudo. Fui me desfazendo.

Em seguida, parti para os brinquedos do Bento. Ele caga para metade daquelas coisas coloridas. Imagina quantas crianças iam amar? Fui para roupas de cama, sapatos, roupas, medicamentos, trecos… E ainda tinha o carrinho antigo.

Peguei Bento, Shell, Gorda, o carrinho lotado de coisas e fui no Lar Paulo de Tarso, centro espírita aqui da esquina, doar para o Solar Meninos de Luz.

Entramos com tudo no centro. Gorda subiu correndo para tomar um passe – espero que não tenha largado um barro na sala. Shell se atracou com um pote e brincava pela casa. Bento fazia suas conexões mentais. E eu, me sentindo mais que uma mamãe noel, fui descarregando minhas doações. Nem preciso dizer que o pessoal da casa ficou muito satisfeito. Ainda deixei alguns livros espíritas para a galera que estuda.

Sensação inigualável. Me abriu muitos questionamentos sobre o que Bento realmente precisa. Como ele é privilegiado. Como não posso reclamar da vida. Como temos que ajudar os outros.

Fiquei com a maior vontade de visitar o orfanato que fica na rua Saint Romain, aqui perto. Mas assumo que com o meu coração de manteiga e minha lua em peixes fico com medo da minha ressaca moral em seguida. Se criança fosse que nem bicho, eu correria grande risco de voltar com uns três pra casa e ainda me sentindo mal pelos que deixei. Não estou exagerando. Sou assim. Ainda estou considerando a ideia.

Mais tarde, de alma lavada, fui pra minha aula à noite e, quando voltei, parei no bar embaixo da casa da minha mãe para tomar uma malzebier. De repente, sinto um dedo cutucando meu ombro de leve. Era um engraxate. Me pediu uma fatia de pizza. Não quis mudar meu clima. Garoto novo e negro. Nosso lixo social. Nosso racismo de todos os dias.

O atendente do bar olhou pra mim e perguntou:

-Não prefere pagar o salgado?

Ele sabia que o salgado devia custar 3 reais e a fatia de pizza 7.

– Não. Dá a pizza pra ele.

Ao olhar pra trás vi mais uns dois. Um homem que comia com a sua filha numa mesa próxima chamou outro e pagou uma pizza também. Um casal afastado ofereceu ao terceiro. O olho deles brilhava “Caraca aí, mó pedação de pizza!” Pediram água para beber e foram embora animados. O atendente disse que sempre fazem isso, mas não me incomodei. Eram garotos. Eu já fui garota e pude preferir a pizza ao salgado. Já fui garota e não queria comer o sanduíche feito de casa, era bem mais legal comer o joelho da cantina do colégio. Claro que valiam mutretas para isso. Coisa de garoto.

Ri muito deles. Estavam num clima divertido do tipo “vamos descolar uma pizza.” Porra! Só uma pizza! E eu aqui desejando tanta coisa desnecessária…

Meu Natal vem começando com requintes de humanidade.

Sei que na real, nós não devíamos ter que doar coisas. Na real, eles deviam ter uma vida como a minha. Com suor, com batalha, mas com comida na mesa, estudo, informação, cama quente, assistência, carinho. Deviam ser vistos como eu, uma pessoa de classe média e branca.

Nesse Natal, só tenho a agradecer. À maternidade, ao Bento, ao blog, aos meus pais, aos meus avós, às minhas oportunidades. Agradeço por esse sentimento grande de saber que a coletividade precisa da gente. Não só com a matéria, mas com nosso olhar de igualdade social. Esse olhar de conexão.

Não estamos sozinhos.

***

Quem quiser ajudar o Solar dê uma olhada no site. O Solar fica em Copacabana, assim como o Lar Paulo de Tarso. Se for longe de você, faça a sua boa ação por aí!

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