13 de abril de 2014

Quem me conhece na superfície pode me achar durona, mas minhas águas netunianas são profundas. Recebi esse email na sexta passada. Me emocionei por tamanha sensibilidade e franqueza contidas. Me emocionei por ter sido escolhida como oceano onde viria desaguar esse desabafo.

Com o devido consentimento e mudança de nomes, publico aqui.

“Oi Fernanda,

você sabe pouco de mim, mas eu sei bastante de você e do Bento (rs). Acompanho o seu blog em silêncio desde que estava grávida da Diana (agora está com 9 meses). Me identifico muito com você, seus textos trazem muita proximidade. Parece que você está sentada do meu lado conversando. Também sou mãe solteira e também passei minha gravidez sozinha. Bem que você dizia que o bebê fora da barriga justifica os 9 meses anteriores. Me emociono muito com o que escreve e certas horas volto em textos que me dão força para seguir. Um grande obrigada e um abraço apertado em você.

Depois do seu último texto – Mãe em Crise – fiquei com a maior curiosidade sobre sua história com o pai do Bento, mas não quero ser invasiva. Pela coragem que você mostra na sua escrita, se quisesse falar, já tinha jogado aos 7 ventos! heheheheheheh Daí pensei em escrever a minha história com o pai da Di.

Fazia 1 ano exatamente que eu havia terminado um relacionamento longo e conturbado. Ainda me desvencilhava da possibilidade de voltar. Ficava com outros caras, mas não queria compromisso. A relação tinha sido tão sufocante que eu precisava de ar, precisava me amar de novo antes de pensar em amar alguém.

Tinha uma festa de amigos em comum do ex e me arrumei toda, para bancar a inteira. Não gostava mais dele, mas sabe como é né… A festa começava as 16h e eu comecei a me arrumar às 11 da manhã kkkkkkkkk! O meu ex não foi e o resultado foi que acabei conhecendo o pai da minha filha. Não foi amor à primeira vista. Talvez à terceira vista. Ou quinta. Assim que cheguei no lugar, ele foi a primeira pessoa que vi. Estava mal arrumado, era mais velho. Na hora pensei “Gostei desse coroa.” A festa rolou e acabamos ficando. Na mesma noite, ele me contou que era compromissado e o meu HD já processou que aquilo ficaria por ali. No dia seguinte à ressaca, sabia que tinha sido legal, mas nada demais, não iria pra frente por questões óbvias. Para minha surpresa, nos encontramos mais umas vezes só pra conversar – assumo que eu achava que não era só pra conversar, mas o cara era assim: esquisito. Eu pensava que era coisa de velho e de homem de fora do Rio. Carioca é foda. Só quer foda. E aquele cara queria conversar, saber quem eu era. Me sentia bem com ele e fomos nos conhecendo. Me apaixonei. Entre idas e vindas dele ao Rio nos encontrávamos sabendo que era inviável. Umas horas só conversávamos, outras flertávamos e, em raros momentos, nos beijávamos. Sexo? Talvez tenha sido só para Diana vir ao mundo. Raro e evitado até a última instância. Eu queria aquele homem pra mim e acredito que num pequeno espaço de tempo, embora lutasse contra, isso ocorreria. Só que… Engravidei no meio do caminho. Foi uma bomba nas nossas cabeças. Uma bomba que caiu entre nós dois e nos lançou para campos opostos – mesmo que eu tenha resistido. Ele duvidou de mim, questionou se fiz para ficar com ele. Quis que eu tirasse. Viramos estranhos. Sofri para caralho – com você palavrão pode né? Porque dizer que sofri muito é pouco. E pra dar a notícia pra ele? Quase desmaiei. Sabia que perderia o amor da minha vida…

Outro dia, uma amiga me perguntou: “Você pensou em abortar?” De pronto respondi: “Nem por um segundo.” E ela rebateu: “Por que não pensou na possibilidade?” Não soube responder.

Aquilo ficou latejando na minha cabeça por semanas: por que não pensei?

Chego agora na parte mais importante deste email.  Depois de muito matutar, cheguei à resposta:

COMO EU PODERIA PENSAR EM ABORTAR O FILHO DO HOMEM QUE EU AMAVA?

A gravidez era apenas uma desconfiança quando me saiu um borrão na calcinha. Senti um vazio. Era um sinal de que não estava grávida como supunha. Imediatamente me repreendi: “Você tá maluca, garota? Triste porque não está grávida?” Nossa mente nos prega cada peça… Mas se eu tivesse – e estava – era do cara que eu amava, não podia ser tão trágico assim. Não havia maluquice no amor que eu sentia.

Por que não pensei? Porque senti. E sentir não é da ordem do pensar.

Eu podia dizer que era contra ou a favor do aborto por diversas questões, no entanto, não foi uma questão de prós ou contras, eu simplesmente não pensei.

O pai da Di foi o primeiro homem que eu me via formando família, tinha certeza que seria um maridão e um paizão – e é, mesmo não estando junto comigo.

Era uma tragédia engravidar dele? Não. Ele em si não era o problema. O problema era engravidar naquela época e com o tipo de relação que tínhamos, apesar de sincera, não era estável, estava maturando. Sei que isso abre espaço para pensarem que fiz de propósito, por isso não posso conversar isso com qualquer pessoa. Escolhi você para guardar o meu desabafo. Queria falar isso pra ele e um dia vou falar: “Não planejei esta gravidez. No entanto, tomei ela pra mim no minuto que soube. Não titubeei. Por um simples motivo: Como eu tiraria um filho do homem que eu amava?”

Será que ele me odiaria? Hoje em dia, ele diz que sabe que não foi de propósito, sabe que foi nossa responsabilidade, me agradece a coragem. Fica com a Diana com o maior carinho e no fundo deve se arrepender da proposta que me fez.

Fico feliz ao assistir timidamente eles se conhecendo. Chego a pensar que se de alguma forma meu inconsciente escolheu esse cara, meu inconsciente mandou bem. Esse cara, esse pai, esse homem- que eu talvez ainda ame – não é e nem foi o problema. Ele foi a solução.

Fico por aqui e obrigada por ter me escutado (lido). Deixo com a minha despedida uns 30kg que tirei das costas – ainda faltam uns 100, mas esses só vou tirar quando me abrir com quem preciso.

Escreva, escreva e escreva…

Beijo grande em você e no Bento!

Lúcia”

Lúcia,

Adoro duas frases do Lao Tsé e elas me vieram quando li o seu email:

“Pagai o mal com o bem, porque o amor é vitorioso no ataque e invulnerável na defesa.”

“Ser profundamente amado por alguém nos dá força; amar alguém profundamente nos dá coragem.”

Siga em frente!

um beijo no seu coração e um forte abraço

Fernanda e Bento

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