30 de abril de 2014

Começou no carnaval quando um carinha meteu uma cantada pra mim dizendo que podíamos colocar o seu FILHO para namorar a minha FILHA (no caso, chamada Bento).

Mentira. Olhando bem, começou quando resolvi deixar os cachos dourados do Bento crescerem. São tão bonitos! E ele fica tão mais cremoso, que não imaginei que começaria ser confundido com menina. Desde que nasceu tem cara de macho. Não macho que cospe no chão, coça o saco e arrota achando bonito. Macho no sentido biológico de possuir pênis, alta taxa de testosterona e traços mais grosseiros.

O troço aumentou e quase diariamente ouço um “Ela é fofa”, “Cuidado, ela correu pra lá”, “Qual é o nome dela?”. Não me preocupa o Bento “parecer” – gesticulações com as mãos fazendo aspas- me preocupa o pessoal achar que parece. Me intriga.

Me intriga toda vez que compramos roupa, a pouca variedade de cores para meninos. Até o vermelho é escasso. Azul, azul marinho, verde, verde escuro, cinza e preto me geram apenas um pensamento: que palhaçada. A divisão começa aí. Nessa maluquice de dividir cores. Na idiotice de visitar um garoto recém nascido e perguntar se ele tem piruzão e sacão. Não, não faça isso. Pelamor de God não faça isso. É tosco. Sobretudo sem graça. É. Num tem graça alguma mesmo. Quem rir pra você diante desse questionamento está sendo bem falso. Eu já fui.

Não encha ele de carrinhos e mais coisas azuis. Até o azul fica irritado com essa seletividade. Repare que sou rendida por essa monocromia e mesmo assim, por conta de cachos ao pé da orelha- pé da orelha, não são ombros nem cintura – Bento é menina.

Se arrependimento matasse, eu estaria morta. Mês passado Bento ganhou um tênis do pai, era o único que estava cabendo. Em alguns dias, perdeu um pé – fato que me fez pedalar a lagoa inteira mais umas duas vezes. Saí para comprar outro e me deparei com tênis infantis com preço de adulto. Nêgo tripudia de mãe deslumbrada com cria nova. Não de mim. Tinha um no preço que eu podia pagar, só que rosa. Ainda o segurei por minutos na mão. Me encantava a possibilidade de mostrar que não sigo essa chatice de rosa versus azul. Tipo batalha dos sexos. Ele nem tinha os cachos, mas me conheço. Eu ia querer xingar quem dissesse que ele era menina só por conta do tênis rosa. Devia ter comprado sob acordo comigo mesma de rir cada vez que isso acontecesse. Ou de simplesmente recomendar uma leitura bem desconhecida sobre sexismo. Ou de citar a lei 4.000 não sei das couves contra homofobia. Ou de discursar sobre o poder da vibração do rosa no chakra sexual. Iam pirar comigo.

Arrependimento não mata. Mas traz aquela promessa de “da próxima vez…” Da próxima vez mando o sexismo alheio para o século passado, onde foi gerado e deveria ter morrido. Descobriram o ar condicionado, mas não descobriram que sexismo é uma babaquice. Vai entender… Nem como old fashion sexismo pode ser classificado. Tipo perdeu o brilho mesmo. Não há retoque que o faça ficar em alta de novo. Tipo #essamodafoiumaviagemesperoquenãovoltejamaisjaménuncadeusmelivre.

Esse tipo de reação é um perigo vinda da minha parte. O que o comportamento sexista alheio poderia gerar numa aquariana com ascendente em touro e lua maluca em peixes? Agora que não corto o cabelo mesmo. Pensei até em fazer um rabo de cavalo. Duvida? Duvida? Fala que duvida?

Se me irritarem muito, lanço uns discursos prontos na bolsa, compro tênis rosa, deixo os cabelos nos ombros, faço rabo de cavalo e ainda lanço uma oncinha no moleque.

Fala que duvida!

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