My Chinelow

Meu tataravô era doido e autodidata. Dizem meus tios que ele falava mais de 5 línguas e que tinha aprendido lendo dicionários. Minha mãe fez letras e falava umas quatro línguas. Eu só fiz inglês, estudei um pouco de francês na escola (implicava com o biquinho), enrolo no espanhol e arranho no português. Minha irmã também gosta dessas coisas. Bento, faz mais de um ano, começou a falar inglês. Adora assistir desenhos nas mais variadas línguas e o inglês acaba sendo uma figurinha fácil de se encontrar. E ele se amarra nesse lance de dobrar a língua e fazer balé com o som do “r”. Descobri que meu filho falava inglês no dia em que fomos ao mercado e ele me pediu um “biguti” (iogurte) white. Fiquei espantada. Porque ali ele já falava todas as cores, formatos, números e letras em inglês. “Óia, mamãe, um pentagon (pentágono)!” Fiquei aterrorizada. Nunca pensei que pensaria em colocar meu filho numa escola bilíngue, mas vendo ele brincar com os seus bonecos em inglês (inglês tupiniquim, óbvio) tenho certeza que essa foi sua língua em outras vidas. Por vezes, travamos diálogos interessantes como este a seguir. Como se em português já não fosse difícil o suficiente.
– Mãe, quero my chinelow!
(Caraca, o moleque tá falando inglês!)
– Qué o quê?!
– My-chi-ne-low.
– Não é chinelo, é flip flops.
– Eu quero, mãe!
– Mas num tá aí no seu pé?
– My-chi-ne-low, mãe!
– O outro chinelo? Você quer o chinelo verde?
– Não, mãe! My chineloooow!
– Que diacho é isso?!

Raciocinei…

– Marshmallow?
– É.
– Marshmallow? Você quer marshmallow?
– Uhum.
– Marshmallow mesmo?
– Isso.
– Quem te deu essa joça, Bento?

Antes fosse o inglês.

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