Ontem, estava rodando pelo shopping fazendo hora para Bento acordar,
quando encontrei uma amiga. Outra mãe solteira, num ponto adiante dessa estrada. Ela me ajudou muito nos meses iniciais com o Bento. Mais do que com suas técnicas, com suas palavras. Estava por lá fazendo hora também. Sua filha estava no cinema. Trocamos uma idéia.

Acho que sua mensagem principal para mim é: Aceite que a jornada é sua.

Falávamos do amparo paterno, como é limitado para uma mãe solteira. E como o sentimento que fica pra gente é o de solidão. Nada com não ter namorados, amigos, família. Mas a falta daquele outro círculo que fez um dia aquela interseção: nosso filho. Solidão por não ter com quem dividir as dores e as delícias da criação um filho. Não é só a barra que pesa em não ser dividida. Sinto uma falta, um vazio, por não ter o outro para compartilhar o primeiro passo. É alegria solitária, quase triste.

Sua filha há pouco tempo teve um problema de saúde, ela, aflita, ligou pro pai que mora em outro estado. “Vem, não sei o que ela tem, estou preocupada.” Ele não veio, disse que só viria caso ela piorasse. Montei aquela imagem dela só, num hospital, tentando manter a calma diante das interrogações do quadro da filha.

Identifiquei, num segundo, aquela sensação de abandono que me é comum nesse 1 ano e nove meses de Bento. Quando minha barriga mexeu a primeira vez, não tinha ninguém pra sorrir comigo. Fui na maioria das ultras sozinha. Muita solidão… E continuou. Bento sorriu, engatinhou, falou, chorou. Quantas noites insones sem ninguém pra dividir. Quanta expectativa geramos de uma paternagem ativa que nunca vem.

Me bateu um desânimo. Queria que mais à frente, as coisas fossem diferentes nessa estrada. Eu estava morta de cansaço em pleno domingo. Domingo. Dia que as pessoas descansam, passeiam, se distraem. É o dia em que estou mais cansada e não tenho ajuda. Não consigo fazer absolutamente nada. Não leio um livro, não vou a uma praia, cinema, teatro, social, qualquer coisa!

Minha amiga sempre se oferece a ficar com Bento. Diz que uma MÃE lava a outra rs.

No final da nossa conversa, perguntou se vi a reportagem que saiu no Globo ontem. Eu estava com o jornal no carrinho do Bento e ainda não havia tido a oportunidade de pega-lo para ler.

Duas páginas do Globo no caderno de economia falando sobre a dificuldade do reingresso da mulher no mercado de trabalho após a maternidade, a culpa que a mãe tem ao deixar seu filho com outras pessoas, incluindo a creche. E mais que isso, o quanto o machismo da sociedade faz com que a mulher tenha uma jornada dupla, tripla de trabalho.

A reportagem da Hildete Pereira de Melo você lê aqui

Duas partes me chamaram a atenção.

“A sociabilidade pela maternidade é a marca. Está abalada, mas não foi destronada. Não conseguimos fugir. Para os homens é mais fácil. Adota o filho do outro e esquece o seu próprio filho. Ele chega a esquecer o aniversário do filho depois que se separa.”

Os homens são pais dos filhos da mulher com quem ele está. Com suas exceções, claro.

“A grande mudança é ter creche e escola funcionando em tempo integral. Já diminuiu a crença de que pôr a criança na creche muito cedo é abandono, a criança vai ficar mais doente. A psicologia reabilitou as creches, mostrando que melhoram o desenvolvimento cognitivo das crianças. Mas há uma culpa muito grande da mulher. É uma relação de amor, não precisa se encher dessa culpa cristã.”

Super de acordo que a culpa atrapalha muito a nossa entrada no mundo. Porém, a creche deixa o bebê mais doente sim, e acaba que, até o organismo do bebê se adaptar, não funciona pra mulher trabalhar. Ok que a psicologia reabilitou creches, mas daí a dizer que elas melhoram o desenvolvimento cognitivo das crianças, vai contra a maioria das pesquisas de desenvolvimento infantil. Os bebês se beneficiam mais do afeto por parte dos que cuidam dele do que da sua interação com outros bebês.

Mole não.

A sociedade não sabe o que fazer com as mães. Quiçá com as mães solteiras.

Enquanto isso vamos seguindo. Fazendo tripla jornada e lavando umas as mães das outras.

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