Feliz dia das Panteras, Onças e Leoas!

Ser mãe é uma coisa que até hoje me embarga voz ao falar, ao lembrar e a viver.
Talvez, porque eu a viva no modo intenso. Numa piscina de ondas infinitas que aprendi a surfar na marra, apesar dos inúmeros e constantes caldos.

E que possui a beleza de dropar, deslizar descendente, entrar num tubo ou dar um aéreo libertador. Possui a coragem de ser uma formiguinha numa engolidora onda de Nazaré. Sem jet-ski, claro. Sem capacete. Sem colete salva-vidas. Este último, assim que cê pari, cê entrega pra criança. Junto com o capacete. Não satisfeita, monta no jet-ski – e montaria até num foguete – pra protege-la das quinas da vida – e você mesma que se foda. O importante é o moleque (ou a moleca) estar bem.
É engraçado. Porque cê entra nesse mar sem muito parâmetro. Entra na mais bela ingenuidade. E assim que ligam a piscina, cê começa a ver que o bagulho é sério. E na correria de se preparar pra próxima onda, cê nem repara onde largou a chave da sua própria identidade. Desconheço qualquer processo mais transformador que ser mãe. A gente fica perdida por anos. Vestindo uma nova personagem fulgaz. Sonha com aquela vida louca e espontânea de antes, mas se te derem uma chance de escolher uma das duas, tá lá você com a criança debaixo da asa.
Ser mãe: depois que se é, não tem mais como des-ser. Tem a ocitocina, claro. E tem a beleza do bebê, a sua fofura – que armadilha da natureza, senhoras. Aquele olhar enquanto suga sua alma através do peito. Que olhar fulminante! A gente assina o contrato ali, de olhos fechados e encharcados. Quando cresce um pouco tem o lance de chamar o seu nome e precisar tanto de você, que mesmo exausta, a gente se sente amada e importante. Dali um pouco mais, tá dizendo “eu te amo”. Aí, já era.

Depois de um tempo de piscina, cê já entendeu que o bagulho é doido e começa a desenvolver as suas malandragens. Suas certezas e as coisas que você prometeu ser, fazer ou não fazer, em sua maioria, já se foram pelo ralo da piscina. Já há um entendimento de que, muitas vezes, o modo que você precisa ativar é o da sobrevivência. E que a sua língua julgadora com as coleguinhas que foram mães antes de você, já te chicoteou o suficiente. Cê pede perdão, pede clemência e toma mais um caldo pra deixar de ser maluca.
Daí, cê tá lá descabelada, bebendo água, surfando 5 e tomando 5 caldos pra cada 10 ondas que brotam da máquina psicodélica chamada maternidade. E suas amigas que nunca entraram, estão na beira. Acenam felizes pra você. Cê fica feliz, pois elas vão entrar, quem sabe vocês se ajudem a nadar nesse maremoto. Cê arruma os cabelos pra não parecer que é um caos e lhes dá pequenos conselhos com medo de assusta-las. É bom ser mãe? É bom. Mas é doido? Pra cacete. E é disso que não se fala. Você tá pronta pra pirar, minha coleguinha? Tá pronta pra largar conceitos, preconceitos, recursetos, manias, hábitos, certezas, incertezas. Cê tá pronta pra metamorfosear? Então, bora que no caminho te explico o pouco que sei. Sendo que o pouco que sei, pode ser que eu des-saiba em instantes. Pode ser também – e temos uma chance gigantesca disso acontecer- que seu filho seja totalmente diferente do meu e meus superpoderes adquiridos debaixo d’água, não te ajudem tanto assim. Amiga, cê tá pronta pra vestir as sandálias, as saias, a blusa e usar o perfume da humildade? Então, chega mais. Chega mais e se prepare pra essa jornada doida, maneira, engraçada, exaustiva, mamífera. Se prepare pra deixar de ser um coelhinho, um esquilinho, um ursinho. Se prepare pra se tornar uma leoa, uma pantera, uma rara onça pintada de caninos afiados e pelagem macia. Se prepare pra valentia, minha flor. Pra valentia que se inicia dentro do seu coração e parte pra tomar teu corpo, tua voz, teus músculos, tua dança. Se prepare para uma beleza diferente. Marcas e mudanças corporais: a beleza de uma deusa. O senso estético de quem foi forte o suficiente pra colocar um filho no mundo. Apreciem. Se prepare pra ser uma divindade. Se prepare pra ser do caralho! Se prepare pra ser árvore frondosa de raízes largas. E se você não as tiver, vai naturalmente aprender a brota-las. A gente tem esse poder. Se prepare. Se prepare pra esse e para mais outros superpoderes!

Feliz dia das mães! Feliz dia das Deusas!

Das panteras, onças e leoas!

*Para as minhas amigas que serão mães, se precisarem, eu empresto o jet-ski. Amo vocês!

4 Comentários

  1. CLAUDIA THURY MOSQUEIRA DE AZEVEDO

    Demais Fê!!! É uma experiência que exige todas as palavras e mais um pouco. Viva nós!!🩷👏🏽👏🏽👏🏽

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