Diário de viagem: 22/04/22
Acordei cansada. Os dias que chegam envolvem testes na água e muita coisa se passa em minha retina até aqui.
Da mulher que corre com os lobos à mulher que resiste com eles, acumularam-se emoções e volta e meia elas brotam na voadora. Ao contrário do que pensam a persona atleta não senta no barco sozinha. Senta todo mundo: você e todas as suas personalidades. No meu caso, eu, Sônia, Suzete, Soraya e Samara – das que conheço.
Fomos treinar e experimentei um remo mais duro. Não afunda tanto na água, mas não deixa de ser duro.
O treino se divide em 3 partes. A terceira foi a melhor. São treinos diferentes do que estou acostumada. Termino o treino captando sensações. Pancho é paciente e aparentemente já identificou Sônia, Soraya e Samara. Eu disfarço sem sucesso.
Volto ao clube. Almoço. Descanso. Volto a treinar.
Faço peso. Sento no ergo e mais uma vez batemos na tecla da técnica. O treino rende mais do que eu imaginaria e isso é bom.
À noite, a preocupação com Bento bate, a terapia me salva e penso que nunca vivi um desamparo familiar tão grande quanto o de agora.
Com a cabeça na lua, perco o carregador do meu celular. Tarde da noite desço na garagem de remo escura cheia de coragem – o que a gente não faz pra poder ficar zapeando? Os fantasmas argentinos estão todos lá reunidos ao redor dos barcos que outrora remaram. Dou boa noite e peço licença por interromper a conversa. Abro a garagem e vou à beira de Lujan que fantasio que seja um homem gato pra cacete falando “soy peligroso”. Eu rio na cara do perigo, não acho o raio do carregador e retorno aos meus aposentos em silêncio.
Durmo pedindo força aos meus ancestrais.